Fernanda Magnotta

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Opinião

Harris e Walz focam na desconstrução do mito anti-establishment de Trump

A campanha Harris-Walz está adotando, nos Estados Unidos, uma estratégia interessante ao tentar desconstruir o discurso de Donald Trump como um outsider anti-establishment.

Trump chegou ao poder em 2016 com uma mensagem populista, se apresentando como alguém de fora da política tradicional que iria "drenar o pântano" de corrupção em Washington.

No entanto, os democratas estão agora desafiando essa narrativa, argumentando que Trump, na realidade, é um bilionário autocentrado que "busca vantagens para si e para seus amigos ricos", como têm repetido constantemente. Eles contrastam isso com Kamala Harris, que se apresenta como a defensora do americano médio, tentando convencer os eleitores de que ela, e não Trump, representa os interesses reais daquela sociedade.

Uma das principais lições aprendidas com a campanha de Hillary Clinton em 2016 é que demonizar os eleitores de Trump pode sair pela culatra. Dessa vez, Harris e seu candidato a vice, Tim Walz, evitam esse erro ao não atacar diretamente quem votou em Trump.

Em vez disso, a campanha foca na mensagem de que o momento de Trump já passou e que a maioria dos norte-americanos não compartilha de suas ideias extremas. Esse é um ponto crucial, especialmente considerando pesquisas recentes do Pew Research Center, que mostram que a maioria dos eleitores independentes - o grupo mais cobiçado pelas campanhas - se identifica como moderada ou liberal, ao invés de conservadora, principalmente em questões sociais. Para esses eleitores, as posições de Trump são vistas como radicais e fora de sintonia com o que eles consideram importante.

Harris e Walz estão empenhados em expor o que consideram ser a hipocrisia no discurso de Trump como anti-sistema. Eles argumentam que, apesar de Trump tentar se passar por alguém que desafia a ordem estabelecida, suas ações mostram o contrário. Para muitos, essa narrativa soa mais como um "non-sense" e reforça a imagem de Trump como um "weirdo" - alguém fora dos padrões, mas não necessariamente em um sentido positivo. Esses são termos empregados com recorrência na comunicação política dos democratas.

Tim Walz, parceiro de Kamala Harris na chapa, é outra peça importante nesse quebra-cabeça. Walz é apresentado como o oposto de Trump: um professor, um técnico esportivo, alguém que realmente conhece as lutas da pessoa comum. Ele traz para a campanha um ar de equilíbrio, progressista em várias agendas, mas sensível a questões nacionais caras aos grupos mais conservadores como o interesse por armas de fogo. Para a classe média, a mensagem é clara: Walz é um deles e está pronto para lutar por suas necessidades e preocupações reais, não por interesses pessoais ou de uma elite privilegiada.

A ordem do dia, nos Estados Unidos, é desnudar Trump aos olhos do eleitor e apresentá-lo como um criador de mitos e de discursos que não passam de fachadas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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