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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

"Balões de vigilância" abrem novo capítulo na rivalidade entre EUA e China

China lamenta "entrada acidental" de balão nos EUA - Reuters
China lamenta "entrada acidental" de balão nos EUA Imagem: Reuters

Colunista do UOL

04/02/2023 11h23

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Acompanhamos, nos últimos dias, mais um capítulo do tensionamento entre Estados Unidos e China. Para além das questões já conhecidas, há agora também denúncias de espionagem. Isso ocorre depois que dois dispositivos chineses, apontados como "balões de vigilância", foram identificados pelo Pentágono sobrevoando o território norte-americano e outras regiões da América Latina.

Embora incomum nos tempos de hoje, esse tipo de artefato era considerado usual no passado, e poderia ser útil para obter informações e mapear recursos de adversários a custos mais baixos do que com o uso de satélites. Acredita-se que, no atual cenário, os balões chineses pudessem estar coletando dados sobre os sistemas de comunicação e radares dos Estados Unidos.

O problema é que, na estrutura de governança contemporânea, trata-se de uma violação de soberania e do descumprimento de normas do Direito Internacional que prezam pela não-intervenção.

O governo chinês afirma que tratam-se de aeronaves civis utilizadas para fins científicos, principalmente meteorológicos, e que teriam entrado nos Estados Unidos por engano.

Embora autoridades militares dos Estados Unidos tenham considerado abater os balões, isso foi desaconselhado em função dos riscos de que os destroços atingissem pessoas em solo, causando acidentes.

Como resposta, no entanto, o Secretário de Estado Antony Blinken, optou por adiar sua visita a China, programada os próximos dias. Nas relações internacionais, esse tipo de aceno representa uma forma de retaliar atos de um interlocutor e escalar, diplomaticamente, o nível de incômodo provocado por uma situação.

Biden, tanto quanto seu antecessor, tem defendido a estratégia de "decoupling" entre os dois países. Ele acredita que é preciso que os norte-americanos reduzam sua dependência da China, sobretudo no que diz respeito a cadeias de suprimentos e abastecimento de produtos manufaturados.

Assim, para além de questões geopolíticas no Mar do Sul da China e das investidas sobre Taiwan, a abordagem de Biden enfatiza, ainda que sem a retórica civilizatória de Trump, a continuidade da guerra comercial/cambial entre Estados Unidos e China como foco prioritário do trato bilateral.

Enquanto ocorre um profundo debate sobre se, no mundo globalizado, é efetivamente possível promover uma "dissociação" entre os dois países, o recente episódio dos balões faz lembrar porque essa relação é tão mais complexa.

Não se trata apenas de gerenciar a balança contábil entre exportação e importação, mas, como acontece em todo processo de transição hegemônica, acomodar disputas no campo da tecnologia e da segurança. Esses é que são e serão os reais pontos de sensibilidade entre os dois países agora e nos próximos anos.