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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Acusado criminalmente nos EUA: os 3 próximos passos de Trump

30.mar.2023 - Uma faixa com a frase "Trump mente o tempo todo" é exibida na calçada em frente ao gabinete da Procuradoria de Manhattan, Nova York (EUA) - Ed Jones/AFP
30.mar.2023 - Uma faixa com a frase "Trump mente o tempo todo" é exibida na calçada em frente ao gabinete da Procuradoria de Manhattan, Nova York (EUA) Imagem: Ed Jones/AFP

Colunista do UOL

02/04/2023 10h38

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Acompanhamos, nessa última semana, a notícia de que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi indiciado criminalmente pela Justiça de Nova York - algo considerado único, até então, na História política do país.

Trump é acusado de ter pago suborno à atriz pornô Stormy Daniels, nas vésperas da eleição de 2016, para que ela se mantivesse em silêncio a respeito de uma relação extraconjugal ocorrida anos antes. Na próxima terça-feira, o ex-presidente se apresentará às autoridades para acompanhar os desdobramentos do caso, que, em tese, poderão culminar em multas e/ou em sua eventual detenção.

Esse não é o único problema que Trump enfrenta na Justiça dos Estados Unidos. São dezenas de investigações e processos simultâneos, que incluem questões fiscais, criminais, alegações de fraude eleitoral e acusações de má conduta sexual.

No campo das questões fiscais, Trump enfrenta uma investigação sobre seus negócios e impostos pessoais, incluindo a possibilidade de que tenha superestimado seus ativos e subestimado suas dívidas em relatórios financeiros. No plano criminal, para além do caso Daniels, a promotoria de Manhattan está investigando as finanças de Trump e da Trump Organization em relação ao pagamento por silêncio a outras mulheres com as quais ele teria tido relacionamentos, bem como sobre a maneira como os negócios foram usados para subsidiar esse tipo de prática.

No que tange à fraude eleitoral, Trump têm de lidar com as consequências de ter denunciado irregularidades eleitorais no pleito de 2020, sem jamais ter apresentado provas ou evidências concretas. Por fim, em matéria de má conduta sexual, o ex-presidente enfrenta acusações incluindo agressão e estupro. Trump tem, sistematicamente, negado todas as denúncias.

Como é a primeira vez que um ex-presidente dos Estados Unidos chega ao ponto de ser formalmente acusado no campo criminal, há, do ponto de vista jurídico, muita incerteza sobre os próximos passos da condução do processo e suas possíveis consequências.

Já, do ponto de vista político, o horizonte parece mais claro: Democratas tentarão usar o tema para expor Trump e buscar desgastá-lo; Republicanos rejeitarão qualquer movimento que considerem parte de um "caça às bruxas", mas mantendo "distância segura" da crise de Trump sempre que conveniente; o ex-presidente, por sua vez, se apegará com força ao episódio para capitalizar apoios e para tentar elevar sua competividade eleitoral com vistas à corrida de 2024.

O que Trump deve fazer, do ponto de vista estratégico, nesse momento:

1) Perante a sociedade norte-americana: interessa a Trump evocar uma narrativa que apela à perseguição política, usando da vitimização e do discurso do "outsider que está sendo punido" por grupos que desejam marginaliza-lo e impedi-lo de retornar ao poder. Isso tem sido fundamental para a mobilização dos ressentimentos sociais que são a base do trumpismo.

2) Perante a mídia: Trump vai usar o caso para ganhar visibilidade e espaço gratuito na cobertura jornalística e no debate público. A criação de factoides, além da disseminação de polêmicas foram a chave para que, em 2016, Trump praticamente estabelecesse o agenda setting da cobertura jornalística nos Estados Unidos. Ele deve usar o interesse renovado em seu nome à partir dessa acusação para voltar a ditar as manchetes do país.

3) Perante o partido republicano: Trump tentará criar coesão entre seus pares para resgatar protagonismo e prestígio, tendo em vista a emergência de outras lideranças competitivas dentro do partido e a elevação das chances de que seja preterido na nomeação para a eleição de 2024. Assim, Trump tentará usar esse caso para sugerir que trata-se de uma luta da oposição republicana, como um todo, contra um "sistema injusto" e potencialmente danoso aos seus interesses e sua própria sobrevivência política como partido.

Olhos voltados para Nova York (e para Washington DC) nos próximos dias.