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Jamil Chade

OMS amplia risco do coronavírus a muito elevado, com mais países ameaçados

Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra -
Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra

Colunista do UOL, em Genebra (Suíça)

28/02/2020 12h43Atualizada em 28/02/2020 14h08

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Resumo da notícia

  • Entidade faz apelo para que governos "acordem" diante do vírus e insiste que proliferação ainda pode ser contida
  • Para especialista da OMS, os sistemas de saúde pelo mundo não estão prontos para lidar com a crise e a elevação do nível de risco serve de alerta

Em um recado político, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o risco global sobre o coronavírus para "muito elevado", equiparando a avaliação internacional ao cenário já existente na China desde janeiro. Nesta sexta-feira, a entidade deixou claro que o vírus "continua a aumentar" e que existe a possibilidade de que novos países sejam afetados.

A mudança na classificação é um alerta enfático emitido pela OMS aos governos. "Acordem", disse o chefe da operação da agência, Michael Ryan. Segundo ele, a constatação é de que os sistemas de saúde pelo mundo "não estão prontos" para lidar com a chegada do vírus e que o novo alerta emitido nesta sexta-feira em Genebra é uma tentativa de conscientizar governos e sociedades.

Após o surto registrado na Itália, o vírus já ganhou 14 países diferentes. No caso do Irã, a expansão foi para onze países. Desde ontem, cinco novos países registraram os primeiros casos, todos eles importados da Itália.

"O contínuo aumento de novos países é claramente de preocupação", admitiu o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. No total, os casos foram registrados em 49 países, com 67 mortes fora da China. No país asiático, o número de novos casos foi de 329 entre quinta-feira e sexta-feira, o menor aumento em um mês.

No total, são 78,9 mil casos na China, com 2,7 mil mortes.

Apesar da mudança na avaliação do risco, a OMS insiste que não está ainda no momento de se declarar uma pandemia. Um dos motivos seria o fato de que não há uma forte transmissão nas comunidades para onde esses vírus chegaram.

"O maior inimigo não é vírus. É o medo, rumor e estigma", disse Tedros. "Nosso maior ativo é de fato e solidariedade", afirmou.

Segundo ele, ainda existe a chance de conter o vírus e, para isso, governos precisam educar populações, identificar os contatos das pessoas afetadas e preparar seus serviços de saúde. "Esse não pode ser trabalho apenas dos ministérios da Saúde", insistiu.

Tedros indicou que acredita que os primeiros resultados dos trabalhos para desenvolver novas terapias estarão disponíveis em poucas semanas. Além disso, mais de 20 vacinas estão sendo estudadas.

"Não estamos prontos"

Na avaliação do chefe da operação da OMS para crises, Michael Ryan, os sistemas de saúde do mundo "não estão prontos" para lidar com o surto e, por isso, o risco foi elevado em termos globais. "Esse é o maior nível de avaliação de risco. Não se trata de algo para assustar as pessoas. Mas para que os governos entendam que deve agir, e não ser complacentes. Não há mais desculpas", afirmou.

"Acordem", disse Ryan aos governos. "Fiquem prontos. Vocês têm esse dever com seus cidadãos e com o mundo. Podemos evitar o pior. Mas precisamos agir", insistiu.

"Temos de desacelerar a difusão do vírus para permitir que sistemas de saúde possam ganhar tempo para lidar com casos", disse. "Esse é o momento de estar preparado e agir. As pessoas precisam entender. Sociedades inteiras e governos inteiros. Precisamos parar de fazer perguntas e é tempo de agir", alertou.