OMS: nacionalismo aumentará preço de vacina e ameaça prolongar pandemia
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Resumo da notícia
- Governo brasileiro terá de se comprometer financeiramente para fazer parte de consórcio mundial de vacinas
- OMS revela que vacina russa só agora entrará na terceira fase de testes clínicos, considerada como a mais importante para determinar eficácia
O nacionalismo e a concorrência de governos por uma vacina ameaçam fazer o preço de um eventual produto se multiplicar e prolongar a pandemia do coronavírus. O alerta foi lançado nesta segunda-feira pela OMS. A entidade pede que governos se unam ao seu projeto de criação de um consórcio de vacinas para permitir que os preços sejam mais baixos e que uma distribuição global dos produtos possa ocorrer.
Depois de um período de hesitação, o Brasil já indicou que está disposto a fazer parte da aliança. Mas, neste momento, negocia os termos de seu compromisso, que precisa estar fechado até dia 31 de agosto.
O governo tem até o dia 18 de setembro para indicar o valor que está disposto a destinar para a aliança e os primeiros pagamentos devem ocorrer a partir de 9 de outubro.
Fontes que trabalham na aliança indicam que o valor está na casa dos "milhões de dólares", apenas para garantir a primeira leva de vacinas ao Brasil.
Internamente, o governo ainda debate de que forma poderia reunir o dinheiro e quais garantias teriam de ter acesso a um produto a preços reduzidos.
Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, saiu em defesa de seu projeto. Segundo ele, 172 países já declararam interesse e destaca que o consórcio é hoje a plataforma com maior porfólio de potenciais vacinas. São nove produtos já confirmados, quatro empresas em negociação e mais nove candidatas sendo avaliadas.
"Esse mecanismo é que vai permitir uma vacinação global. É de interesse de todos, inclusive daqueles que fecharam acordos bilaterais", afirmou.
Ao incluir várias opções de produtos, o mecanismo permitirá que o risco de se investir numa vacina seja diluído, assim como garantirá um preço mais baixo.
Já a atual concorrência entre países, diz Tedros, "pode levar ao aumento de preços e prolongar pandemia". "O nacionalismo de vacinas só ajuda o vírus", indicou. A aliança, portanto, seria a forma mais rápida para recuperar a economia e parar a pandemia.
Numa primeira fase, as vacinas que saiam do consórcio irão para trabalhadores do setor de saúde, pessoas com doenças e idosos. Num segunda fase, a distribuição dependerá de como está a situação de cada país. Até o final de 2021, o plano é de distribuir 2 bilhões de doses.
Tedros lembra que, se governos fizeram injeções de US$ 12 trilhões na economia mundial, será o financiamento da aliança que garantirá resultados reais. "Precisamos de mais dinheiro. Países precisam fazer compromissos vinculantes", disse.
O sistema da OMS, hoje, está sem recursos. Dos US$ 31 bilhões necessários, conta com apenas 10%.
O diretor ainda insistiu que, até que a vacina chegue, governos precisam continuar a testar e isolar pessoas contaminadas, além de manter um distanciamento físico. "Há luz no final do túnel. Mas precisamos usar os instrumentos que estão à disposição", afirmou. "Podemos quebrar a cadeia de transmissão", alertou.
Russos
A OMS ainda explicou que está em conversas com o governo russo para obter dados da vacina que o Kremlin anunciou como a primeira registrada contra a covid-19. A entidade, que se manteve hesitante em declarar sua chancela ao produto, revela que só agora o produto de Moscou entrou em sua terceira fase de testes clínicos.
"Esse é o teste real", afirmou Soumya Swaminathan, cientista chefe da OMS.
A Rússia havia dito que vacinaria pessoas, enquanto os testes continuariam. Mas, diante da resistência de cientistas e da comunidade internacional, o governo indicou que iria primeiro realizar testes com 40 mil pessoas.
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