Países em desenvolvimento estão à beira da ruína, diz chefe da ONU ao G-20
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Coube ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, lançar um duro alerta aos líderes do G-20, reunidos neste sábado em sua cúpula: os países em desenvolvimento estão à beira da ruína financeira, de uma escalada da pobreza e de um sofrimento inédito.
"O efeito dominó de falências poderia devastar a economia global. Não podemos deixar que a covid-19 leve a uma pandemia da dívida", escreveu o chefe da diplomacia das Nações Unidas numa carta que chegou à mão de todos os presidentes e chefes de governo. Segundo ele, ao injetar US$ 11 trilhões na economia de seus países, líderes estão tomando emprestado dinheiro das futuras gerações. A obrigação, portanto, é de que o dinheiro seja usado de maneira adequada.
"O vírus microscópico pôs o mundo de joelhos", disse. "A pandemia da COVID-19 pôs a nu fragilidades sistêmicas nas nossas sociedades, no nosso sistema econômico global e nos quadros que governam o sistema internacional", alertou.
"As consequências são claras: as desigualdades estão aumentando cada vez mais; os encargos da dívida estão a disparar; e um número cada vez maior de famílias, comunidades e economias requerem apoio essencial e estão olhando para os líderes mundiais na sua hora de maior necessidade", indicou.
Vivendo uma crise de credibilidade sem precedentes, o G20 não conseguiu coordenar uma resposta global diante da atual crise. Com China e EUA em lados opostos, o grupo não teve o mesmo papel que desempenhou em 2009, diante do colapso dos bancos.
"A pandemia deve ser um alerta para todos os líderes de que a divisão é um perigo para todos, e de que a prevenção salva dinheiro e vidas", disse.
Para o chefe da ONU, os resultados positivos recentes dos ensaios de vacinas são bem-vindos. Mas ele deixou claro que o mundo precisa de US$ 28 bilhões para garantir que a aliança de vacinas - a Covax - consiga distribuir os produtos em todo o mundo. "Devemos também resistir a qualquer forma de nacionalismo de vacinas", apelou.
A pobreza é uma de suas maiores preocupações diante da pandemia. "Mais 115 milhões de pessoas estão em risco de cair na pobreza extrema e a fome aguda pode quase duplicar, afetando a vida de mais de 250 milhões de pessoas.", disse .
"Apelo ao G20 para que apoie a implementação de níveis de protecção social para todos, independentemente da idade, sexo, religião, origem, estatuto migratório ou orientação sexual, incluindo para aqueles que se encontram na economia informal e invisível dos cuidados de saúde", pediu Guterres.
Para o português, à medida que a crise se agrava, fica cada vez mais urgente uma ação global.
"Uma potencial grande crise de dívida soberana no próximo ano aproxima-se no horizonte", alertou. Seu apelo é para que créditos sejam colocados à disposição de governos e credores terão de considerar um maior alívio da dívida, incluindo o cancelamento da dívida.
"Para manter a liquidez necessária aos países em desenvolvimento, reitero também o apelo contra a retirada prematura do apoio fiscal e monetário às economias", sugeriu.
Clima
Um outro ponto fundamental de seu apelo foi direcionado à necessidade de que o G20 aumente os investimentos na biodiversidade, na ação climática e na restauração dos ecossistemas. "Esta crise é uma oportunidade para construir uma recuperação inclusiva e um futuro sustentável e resiliente", defendeu.
"Apelo ao G20 para que continue a implementar medidas de recuperação ambiciosas, alinhadas com a Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de 2030 e o Acordo de Paris sobre Alterações Climáticas", insistiu.
Segundo ele, há um numero crescente de países do G20 que se comprometeram a atingir as emissões globais líquidas zero até 2050. "Aguardo com expectativa que todos os membros do G20 se comprometam com esta visão, e apresentem, muito antes da COP 26, contribuições nacionais mais ambiciosas e estratégias de neutralidade de carbono que sejam consistentes com os caminhos que mantêm o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius", disse.
Ele também quer que os governos usem uma cúpula que ele organiza para dezembro para anunciar os seus planos e políticas para cumprir os objetivos do Acordo de Paris.
A esperança de Guterres é que a cúpula deste fim de semana defina uma direção para a política climática, transformando os Compromissos de Paris em objetivos de legislação nacional.
"Isto dará mais certeza às empresas e investidores sobre onde canalizar os seus investimentos e minimizar os custos da transformação das economias para emissões líquidas nulas, assegurando uma transição mais suave ao mesmo tempo que aumenta o emprego e os rendimentos", explicou.
Multilateralismo x nacionalismos
Para completar, Guterres fez um apelo para que governos garantam uma ação coordenada. "A solidariedade é sobrevivência", insistiu.
"O mundo enfrenta a sua crise mais profunda e o maior teste desde a Segunda Guerra Mundial", disse. "Nenhum país pode caminhar sozinho ou se recuperar sozinho; estamos juntos nisto. A única forma de ultrapassar esta crise e construir um futuro mais inclusivo, resiliente e sustentável é através da solidariedade global e da cooperação internacional", defendeu.
"É fundamental que nos comprometamos com um multilateralismo que seja ousado e inclusivo, e que coloque a solidariedade à frente da ação solitária", completou.
Em recentes discursos, tanto a diplomacia brasileira como o presidente Jair Bolsonaro atacaram o multilateralismo, insistindo que a resposta deve ser nacional.
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