Cúpula do clima aprofunda Brasil como pária internacional
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A cúpula do clima da ONU, neste sábado, marcará a política externa brasileira. Mas não pelos motivos corretos. O evento que comemora os cinco anos do Acordo de Paris está sendo organizado para que governos de todo o mundo apresentem suas metas de corte de emissões ou ações concretas em termos ambientais. 77 líderes tomarão a palavra, inclusive das maiores economias do mundo e emergentes.
Mas, até a noite de sexta-feira, o Brasil estava excluído da lista de oradores.
O motivo: o projeto apresentado pelo país simplesmente não era considerado como suficiente para ser classificado de "ambicioso". Entre negociadores estrangeiros, a decisão de não incluir o Brasil era um sintoma concreto da crise de credibilidade internacional do atual governo e um abalo a sua reputação.
Nas últimas horas, o Itamaraty agiu nos bastidores para reverter a decisão dos organizadores e espera que, até o início do evento neste sábado, uma brecha seja encontrada para que o presidente Jair Bolsonaro possa falar.
A ONU tem outra posição. Num email enviado na madrugada de sexta-feira para sábado, a entidade apresentava seu cronograma atualizado para o evento e, uma vez mais, sem sinal do Brasil.
Mas, para diplomatas, mesmo que isso ocorra e que a ONU ceda, a exclusão inicial e a resistência em incluir o Brasil na lista ficará como uma mancha na diplomacia nacional. Um sinal transparente de que a comunidade internacional pena para acreditar no país e que a palavra do governo não tem valor.
Critérios para participar
Para que um líder pudesse discursar, a ONU e seus anfitriões no evento - França e Reino Unido - estabeleceram que apenas aqueles que trouxessem algo novo em termos de compromissos ambientais ganharia alguns minutos no palco virtual.
Pressionados pela opinião pública mundial, cientistas e ambientalistas, a ONU optou por colocar um freio à demagogia. Ganharia o microfone quem trouxesse algo concreto. E não que usasse o palanque para fazer política ou ataques contra outros países.
A meta dos organizadores é ainda a de garantir que a COP 26 em Glasgow, na Escócia em 2021, seja um êxito. Para isso, quer já forçar países a apresentar seus compromissos ambientas.
Ou seja: vai à cúpula quem tem o que mostrar para salvar o planeta. E não propostas vazias.
O motivo da exclusão
No caso brasileiro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, apresentou suas metas de redução de emissões de CO2 e submeteu os dados às Nações Unidas. Mas o projeto foi considerado como insuficiente e a opção inicial dos organizadores foi por não dar espaço ao Brasil na cúpula.
Desde quinta-feira, porém, o Itamaraty luta contra essa situação e, nos bastidores, tenta convencer os organizadores de que o país tem o direito de falar. Além de França e Reino Unido, os governos da Itália e do Chile co-patrocinam o evento e a diplomacia nacional recorreu a todos os canais para evitar o fiasco internacional.
Na chancelaria, a esperança ainda existia na noite de ontem de que a situação poderia ser revertida.
O que significa ficar de fora?
Estar excluído de uma maneira deliberada de um evento global é um enorme golpe contra a credibilidade internacional do país. Ainda que Bolsonaro ou alguém do governo consiga uma vaga para discursar, o fato de ter sido colocado de fora representa um sinal claro de que o mundo não confia no Brasil.
A ausência ainda aprofunda o status de pária internacional, justamente no tema que vai dominar a política mundial nas próximas décadas e provavelmente até as decisões dos caminhos que a sociedade tomará.
Ao não ter sua palavra chancelada ou colocada em dúvida, o Brasil também confirma que viverá anos difíceis no palco internacional. A partir de 2021, o grande aliado de Bolsonaro em temas ambientais - Donald Trump - não dará cobertura ao brasileiro e, na Casa Branca, a agenda ambiental ganhará um status de prioridade. Junto, virá uma pressão que pode se transformar em perdas comerciais reais ao país.
Quem subirá ao palco (virtual)?
O evento começa com António Guterres, secretário-geral da ONU, seguido pelo britânico Boris Johnson e pela líder indígena Archana Soreng. Emmanuel Macron, o chileno Sebastián Piñera, o italiano Giuseppe Conte, Xi Jinping e Ursula von der Leyen dão seguimento a uma lista que ainda inclui ativistas, empresários e até o papa Francisco.
Além de Bolsonaro, o outro grande ausente é Donald Trump. Mas, na ONU, a meta é já construir uma relação com Joe Biden, o presidente eleito que já indicou que voltaria ao acordo de Paris. Num gesto claro de que não está mais considerando a atual Casa Branca como referência, os organizadores darão espaço a governadores de estados norte-americanos comprometidos com o clima.
E agora?
Mesmo que o Itamaraty force um espaço, o fato de ter havido uma resistência em incluir o Brasil revela o desmoronamento da reputação internacional do país.
A ausência nas listas preliminares é mais um capítulo de uma comunidade internacional que não vê credibilidade nas promessas do país. Não por acaso, na UE, governos querem renegociar o acordo comercial com o Mercosul, sob a justificativa de que o tratado não conta com garantias e mecanismos suficientes de que irá forçar o Brasil a cumprir metas ambientais.
Enquanto se negociava a participação do país, o Brasil conquistava dois troféus do prêmio de "Fóssil Colossal" dos últimos 5 anos na categoria "Não protege sua população dos impactos das mudanças climáticas" e "Reduz a participação da sociedade civil".
A irônica homenagem da sociedade civiil é um reconhecimento simbólico e não oficial que destaca um país por ações prejudiciais ao clima.
Na cerimônia, o país foi descrito como uma nação governada por "Jair Capitão Motosserra Bolsonaro" que parece estar tentando "transformar os pulmões do mundo no pior lugar do planeta para ser uma árvore."
O prêmio é uma iniciativa da Rede Internacional de Ação Climática (CAN), que reúne mais de 1,3 mil organizações ambientais de todo o mundo.
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