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Escolha de novo chanceler mobiliza debates dentro do Itamaraty
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Pária internacional diante de uma transformação radical da diplomacia durante os quatro anos de governo de Jair Bolsonaro, o Brasil terá de promover uma reinserção internacional do país a partir de 2023 e reconquistar a confiança de parceiros no exterior. A tarefa, portanto, será grande para quem assumir o Itamaraty.
Enquanto a equipe de transição começa a ser desenhada e os primeiros contatos entre o chanceler Carlos França são estabelecidos com Celso Amorim, ex-ministro de Lula, a movimentação é intensa dentro do Itamaraty sobre quem assumiria a função de liderar a nova diplomacia do país.
A reportagem do UOL conversou com alguns dos principais embaixadores do país que, sob condição de anonimato, fizeram uma avaliação dos pontos fortes e dos questionamentos que cada um dos cotados poderia receber, assim como suas respectivas capacidades de sintonia com o presidente eleito.
Celso Amorim
Ministro de Relações Exteriores de Lula e Ministro da Defesa de Dilma Rousseff, o diplomata de carreira Celso Amorim continua com um elevado grau de respeito dentro do Itamaraty. Para os diplomatas mais jovens que nem sequer estavam na carreira nos anos Lula, a percepção é de que existe uma exaustão sobre a vergonha que enfrentam no exterior.
Os diplomatas mais maduros na profissão não escondem sua admiração por sua inteligência e visão global, ainda que os embaixadores mais antigos tenham críticas ao fato de ele não ter preparado sucessores e por ter dado excessivo valor às relações com o Sul (China, Índia, América do Sul).
Internamente no Itamaraty, diplomatas ficaram impressionados com sua capacidade de organizar uma viagem do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva pela Europa e ser recebido pelos principais lideres do continente, entre eles Emmanuel Macron.
A turnê deixou os bolsonaristas e monarquistas dentro do Itamaraty inconformados, principalmente diante da constatação de que as portas estavam fechadas para o atual presidente. No caso de Amorim, a idade é um fator citado como um ponto de questionamento. Mas mesmo com 80 anos, ele mantém uma sintonia fina com Lula.
Aloizio Mercadante
Outro nome cotado para assumir o Itamaraty é o de Aloizio Mercadante, visto como nome muito preparado, que daria autoridade à chancelaria dentro da estrutura do governo. Sua capacidade de diálogo com os demais ministérios é um ponto que chama a atenção. Mas percebido como político por vezes categórico, com dificuldades para fazer uso cuidadoso da linguagem diplomática.
Durante o governo Dilma, Mercadante teria estado por trás de esforço, frustrado, para criar cargos de confiança para indicados políticos na estrutura do ministério, ainda hoje ocupado exclusivamente por diplomatas concursados.
Marina Silva
Apesar de ter seu nome citado mais frequentemente para ocupar um cargo relacionado diretamente ao Meio Ambiente, Marina Silva também faz parte da lista de cotados para assumir a chancelaria.
Marina Silva inspira respeito entre os diplomatas, principalmente por sua capacidade de trazer uma forte legitimidade à política externa ambiental do Brasil.
Mas seu perfil colocaria em segundo plano uma série de outros campos da diplomacia, que, apesar de sua importância, poderiam vir a receber pouca atenção da chanceler: China, comércio, investimentos, paz e segurança internacional, reforma da ONU, América Latina, EUA, países africanos e árabes.
Maria Laura da Rocha
Diplomata de carreira, Maria Laura da Rocha desperta simpatia em uma parcela do Itamaraty pelo simbolismo de representar, na chancelaria, uma parcela majoritária da população brasileira - mulher e afrodescendente.
Sua longa carreira está concentrada na Europa, tendo servido três vezes em Paris, três vezes em Roma, ademais de Alemanha, Rússia, Hungria e Romênia.
Mas há quem alerte para o fato de que tal escolha pela Europa possa representar um obstáculo ao assumir um cargo que terá um mandato desafiador.
Fernando Haddad
Outros nomes citados são ainda o de Fernando Haddad, que suscita respeito pelo trabalho realizado como Ministro da Educação e pela relação de confiança que tem com presidente eleito Lula.
Destaca-se também por combinar experiência política e uma sólida base acadêmica, embora não especializada em diplomacia.
Hussein Kalout
Durante a campanha eleitoral, Hussein Kalout se aproximou ao grupo de Mercadante. Mas o fato de ter servido durante o governo de Michel Temer é visto internamente no Itamaraty como um obstáculo para que seja aceito entre os petistas ou os antigos aliados de Lula e Dilma.
Apesar de saber impressionar, Kalout é comparado entre diplomatas ao ex-chanceler Celso Lafer. Ou seja, uma personalidade com forte base acadêmica. Mas que ainda precisaria de uma maior experiência "no terreno", principalmente num momento que precisará lidar com os desafios que o país terá de enfrentar para se reinserir no mundo.
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