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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Ênfase no Brasil pós-Bolsonaro deve ser fortalecer democracia, diz ONU

17.out.22 - O novo Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos Volker Turk, da Áustria, posa em seu escritório no Palais Wilson, durante um photocall para assumir funções oficiais como Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos em Genebra, Suíça - POOL/REUTERS
17.out.22 - O novo Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos Volker Turk, da Áustria, posa em seu escritório no Palais Wilson, durante um photocall para assumir funções oficiais como Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos em Genebra, Suíça Imagem: POOL/REUTERS

Colunista do UOL

09/12/2022 06h57

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Os brasileiros e suas instituições terão de renovar seu contrato social, depois de quatro anos de um desmonte promovido por Jair Bolsonaro. O alerta é do austríaco Volker Türk, o novo alto comissário da ONU para Direitos Humanos e que substituiu a chilena Michelle Bachelet. Para ele, o foco neste momento deve ser fortalecer as instituições democráticas do país, a inclusão e a participação popular na formulação de políticas públicas.

Numa coletiva de imprensa em Genebra às vésperas do dia internacional de direitos humanos, Türk deixou claro a reconstrução da democracia no Brasil deve ser a ênfase do novo governo.

"A situação e tal que é claro que há um chamado por uma renovação do contrato social entre o povo e as instituições que deveriam servir à população", disse, sem citar o nome do presidente derrotado nas urnas.

"O que vemos nessa situação é uma ênfase forte em restaurar o apoio às instituições democráticas e o incremento de politicas públicas que aumentem a confiança, participação, inclusão e acho que isso é muito importante no contexto do Brasil", afirmou.

"Olhando para o que ocorreu nos últimos anos em termos de problemas estruturais como desigualdade, proteção de indígenas, a segurança de jornalistas e a participação social e política, se formos dar um tempo, eu diria que é a ênfase forte na renovação do contrato social e direitos humanos".

Segundo ele, os direitos humanos devem nortear essa renovação. "Os direitos humanos, no final do dia, decidem como um contrato social deve ser renovado e isso é o grande desafio do novo governo", completou o representante máximo da ONU para direitos humanos.

Histórico de atritos com Bolsonaro

Nos últimos anos, a relação entre a ONU e Bolsonaro se revelou problemática. Num ato poucas vezes visto em relação ao Brasil, a ONU cobrou em meados do ano a independência das instituições nacionais em um ano de eleição, fez um apelo por um processo "democrático" e "sem interferência".

As críticas contra o governo Bolsonaro levaram o Itamaraty a protestar contra Bachelet, insinuando que não aceitaria a intervenção da ONU no debate eleitoral.

Mas Bachelet ainda incluiu o Brasil em seu informe sobre situações que preocupam a entidade e aumentou o tom da cobrança. "Em outubro vocês têm eleições. E peço a todas as partes do mundo que as eleições sejam justas, transparentes e que as pessoas possam participar livremente", disse. "Será um momento democrático muito importante e não deve haver interferência de nenhuma parte para que o processo democrático possa ser atingido", insistiu.

Em relação à situação brasileira, ela não poupou críticas sobre diversos aspectos durante seu discurso. "No Brasil, estou alarmado com as ameaças contra os defensores dos direitos humanos ambientais e os povos indígenas, incluindo a exposição à contaminação por mineração ilegal de ouro", declarou a chilena.

Ela também criticou a situação do racismo e da violência policial, um tema que já abriu uma crise entre o governo de Jair Bolsonaro e a entidade internacional. O presidente, há três anos, rebateu a chilena fazendo um elogio ao ditador Augusto Pinochet. O pai de Bachelet havia sido assassinado quando o general tomou o poder e a própria representante da ONU foi torturada.

Ela, porém, manteve suas críticas em relação à situação de direitos humanos no Brasil e, agora, alerta para a situação eleitoral. "Os casos recentes de violência policial e racismo estrutural são preocupantes, assim como os ataques contra legisladores e candidatos, particularmente os de origem africana, mulheres e pessoas LGBTI+, antes das eleições gerais de outubro", disse.

Bachelet, num raro gesto, também fez uma cobrança sobre as instituições, ainda que não tenha citado textualmente o nome de Jair Bolsonaro e seus ataques contra o Judiciário e as instâncias responsáveis pelas eleições. "Apelo às autoridades para que garantam o respeito aos direitos fundamentais e instituições independentes", completou Bachelet.