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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Em tom de comemoração, Bannon apoia golpistas brasileiros

Jair Bolsonaro e Steve Bannon em jantar na embaixada - Alan Santos/AFP
Jair Bolsonaro e Steve Bannon em jantar na embaixada Imagem: Alan Santos/AFP

Colunista do UOL

09/01/2023 17h30Atualizada em 09/01/2023 17h44

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O ex-estrategista de Donald Trump, Steve Bannon, saiu em apoio aos golpistas no Brasil nesta segunda-feira (9). O americano, que mantém relações com os filhos de Jair Bolsonaro e foi condenado pela Justiça de seu país, dedicou uma parte importante de seu programa diário em uma das plataformas digitais nos EUA para justificar os motivos pelos quais os apoiadores do ex-presidente invadiram o três poderes, em Brasília.

Em seu relato, não houve qualquer referência ao fato de que obras de arte e o patrimônio público tenham sido destruídos. Ele tampouco citou que existem investigações sobre quem teria bancado o evento e omitiu a prisão de mais de mil pessoas.

Usando desinformação em abundância e tentando proteger Bolsonaro, Bannon insistiu para sua audiência de extrema direita nos EUA de que os atos foram "espontâneos" e que as pessoas tinham "dúvidas sobre as eleições".

Governos de todo o mundo, inclusive o de Joe Biden, reconheceram o processo eleitoral brasileiro como legítimo, enquanto Bolsonaro passou a repetir o argumento de Trump de que a eleição teria sido alvo de uma suposta fraude. Em ambos os casos, trata-se de mentira por parte dos candidatos derrotados.

Mas, segundo Bannon, Biden continua sendo um "presidente ilegítimo" e agora destacou que "Lula roubou as eleições", sem dar qualquer indicação de provas.

Em 2019, em sua primeira visita aos EUA, Bolsonaro convidou Bannon para um jantar na embaixada brasileira em Washington. O estrategista foi colocado ao lado do então presidente na mesa oficial.

Hoje, no debate que teve com o suposto "jornalista investigativo" Matthew Tyrmand, os âncoras citam os acampamentos diante dos quartéis. Mas inflam os números. Segundo eles, apenas em Brasília eles seriam "milhões" de pessoas. No Brasil inteiro, essa massa somaria "dezenas de milhões", sem dar qualquer tipo de indicação sobre quantos de fato seriam.

Outra estratégia de Bannon é de insistir que tais atos não estavam relacionados com o ex-presidente que sequer concluiu sem mandato em Brasília. "Os Bolsonaros não estão conectados a isso. Eles estão nos EUA e ele (presidente) condenou na noite de ontem (domingo)", disse.

O ex-presidente não usou a palavra "condenação" para se referir aos golpistas e apenas se manifestou sete horas depois dos acontecimentos.

Bannon ainda repetiu uma de suas principais bandeiras: a ameaça chinesa. Segundo ele, Lula "venderia" o Brasil para o país asiático. Ele também destacou que, na posse de Lula, o novo presidente teria negociado com a delegação chinesa como supostamente transformar o Brasil em um "local para a exploração" pela China.

Foi no governo de Jair Bolsonaro, porém, que o comércio entre Brasil e China atingiu um volume inédito, assim como os investimentos asiáticos no país. Isso, porém, Bannon se esqueceu de dizer.