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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Inelegibilidade de Bolsonaro abala extrema direita mundial

Donald Trump e Jair Bolsonaro durante encontro do G20 em Osaka, Japão, em junho de 2019. Foto: Shealah Craighead/White House Photo via Flickr - Donald Trump e Jair Bolsonaro durante encontro do G20 em Osaka, Japão, em junho de 2019. Foto: Shealah Craighead/White House Photo via Flickr
Donald Trump e Jair Bolsonaro durante encontro do G20 em Osaka, Japão, em junho de 2019. Foto: Shealah Craighead/White House Photo via Flickr Imagem: Donald Trump e Jair Bolsonaro durante encontro do G20 em Osaka, Japão, em junho de 2019. Foto: Shealah Craighead/White House Photo via Flickr

Colunista do UOL

30/06/2023 12h47

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Quando Jair Bolsonaro assumiu a presidência em 2019, sua vitória não significou apenas a existência de um chefe de estado ligado à extrema direita mundial no comando de um dos maiores países do mundo. Para movimentos em diferentes locais, grupos ultraconservadores e lobistas, era a oportunidade que muitos tanto esperavam para que a máquina de um estado fosse usada para fazer avançar sua agenda e redefinir até mesmo a estrutura internacional.

Agora, a decisão de afastar Bolsonaro da vida política é vista entre os movimentos de extrema direita e observadores como um divisor de águas para grupos que operam nos bastidores para garantir que a ideologia ultraconservadora possa ter influência.

Para pessoas ligadas ao movimentos na Europa, o momento é o de repensar estratégias e usar a situação do brasileiro como "alerta". Se oficialmente partidos e aliados de Bolsonaro se dizem dispostos a emitir comentários lamentando a decisão do julgamento, nos bastidores a ordem é de "aprender a lição".

Fontes consultadas em algumas das principais capitais europeias destacam que não há qualquer sinal de que o movimento ultraconservador esteja desaparecendo.

  • Nas eleições regionais espanholas, há dois meses, o partido de extrema direita Vox triplicou o número de eleitores
  • Na Itália, a líder ultraconservadora Giorgia Meloni chegou ao poder e hoje governa abandonando em parte um discurso violento.
  • Na França, Marine Le Pen moderou o tom e busca ser presidente nas próximas eleições com uma plataforma que visa falar da renda do trabalhador, e não mais de questões apenas de imigração.

Para alguns dos estrategistas desses grupos, Bolsonaro serve de "alerta".

Aposta em Trump e Bolsonaro

O movimento de extrema direita via na existência de Donald Trump e Jair Bolsonaro uma possibilidade real de desmonte do multilateralismo e de agendas progressistas. E, de fato, foi isso que ocorreu ao longo de quatro anos.

Durante o período em que esteve no poder, Bolsonaro:

  • Rompeu consenso sobre termos que eram já consolidados, como gênero.
  • Promoveu e deu apoio político para partidos e grupos de extrema direita pela Europa
  • Questionou a OMS, a ciência e a questão climática
  • Agiu nos bastidores para enfraquecer decisões internacionais e criticou a ONU


O governo Bolsonaro seria ainda alçado à posição de protagonista da extrema direita mundial quando Donald Trump perdeu as eleições, nos EUA em 2021. Naquele momento, o movimento ultraconservador americano repassou o bastão ao Brasil, para que a agenda internacional fosse mantida e liderada pelos bolsonaristas.

Num email enviado a apoiadores de todo o mundo, a então secretária responsável pela questão da defesa da Família e das Mulheres, Valerie Huber, indicou que o movimento deveria passar a procurar a embaixada do Brasil e Washington para manter viva a coalizão ultraconservadora.

Como resultado, nos fóruns da extrema direita europeia, os principais nomes do bolsonarismo passaram a figurar como verdadeiras estrelas e referências.

Mas a operação não seria apenas simbólica. Com a estrutura do Itamaraty, Forças Armadas e demais órgãos do estado, o bolsonarismo usou as redes criadas ao longo de décadas por parte do país para promover o projeto ultraconservador.

Segundo pessoas que serviram durante o governo Bolsonaro, a derrota para Lula foi um primeiro abalo importante. O movimento ficou órfão da estrutura do estado brasileiro para que temas fossem debatidos ou vetados nos organismos internacionais. Assim que assumiu, Lula retirou o Brasil das alianças ultraconservadores e reposicionou o país junto aos blocos que defendem visões progressistas dos direitos humanos.

Mas a versão ainda era a de que a eleição havia sido fraudada e que, portanto, haveria uma chance real de voltar a disputar o poder.

Agora, a inelegibilidade transforma o debate. Para esses grupos, há um sentimento de que a estratégia de disseminação de mentiras será confrontada pelas estruturas legais e pelas instituições democráticas. Se por anos os grupos conseguiram fazer avançar suas agendas, propostas e candidatos sem ter de recorrer a fatores reais ou a projetos políticos sólidos, a constatação é de que, nos EUA, Brasil e outros países, as forças democráticas caminharam para fechar um cerco, ainda que frágil.

Também ficou evidenciado para a extrema direita que democracias vão dar respostas coordenadas, como aconteceu quando lideres se perfilaram para saudar a eleição de Lula, reconhecer o processo de votação no Brasil e não dar espaço para qualquer questionamento da legitimidade do petista.