Jamil Chade

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Reportagem

Venezuela: Brasil já admite repassar embaixada, mas tenta evitar invasão

O governo brasileiro considera que terá de repassar a custódia da embaixada da Argentina em Caracas para outro país. O Itamaraty encara como irreversível a decisão do regime de Nicolás Maduro de revogar a autorização que permitiu que o Brasil assumisse a embaixada.

A estratégia, a partir de agora, é ganhar tempo até que um entendimento seja estabelecido para que um novo governo assuma o local.

Fontes diplomáticas de alto escalão consideram que é inevitável que um novo país seja escolhido para assumir essa função. Isso, porém, vai depender de um acordo entre Argentina, Venezuela e o eventual governo que terá a custódia do prédio.

Se muitas das embaixadas latino-americanas foram expulsas por Maduro, a Europa conta com cerca de sete escritórios diplomáticos em Caracas. Uma delas, a da Holanda, serviu de refúgio para o candidato da oposição, Edmundo González.

Mas a preocupação do Brasil é de que um vácuo legal seja criado, abrindo a possibilidade para que os seis opositores ao governo venezuelano que estão na embaixada possam ser alvos de uma ordem de prisão por parte do regime de Maduro.

Por isso, a esperança é de que o governo brasileiro consiga convencer Maduro de que a revogação unilateral não tem efeito e que o prédio, seu acervo e as pessoas dentro continuam a se beneficiar da inviolabilidade da embaixada. Por ordens expressas, a bandeira brasileira continua hasteada.

Logo depois da eleição de 28 de julho, Maduro expulsou os diplomatas argentinos de Caracas. O gesto ocorreu por conta da reação do governo de Javier Milei de não reconhecer a suposta vitória do presidente e insistir que o pleito havia sido alvo de fraude.

Mas, dentro da embaixada, estavam seis integrantes da oposição venezuelana, foragidos da Justiça. Na prática, a expulsão dos diplomatas significava que o governo Maduro poderia romper a inviolabilidade da embaixada e capturar os opositores.

Para evitar uma crise ainda mais grave, o governo brasileiro fechou um acordo no qual passou a assumir os interesses da Argentina em Caracas, inclusive da estrutura da embaixada.

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Ficou estabelecido que, a partir daquele momento, aquela era também uma área brasileira e que continuava fora do alcance das forças de ordem de Maduro.

Maduro, assim como fez com os acordos com o Brasil no que se refere à lisura da eleição, também violou mais esse entendimento, abrindo uma crise sem precedentes.

Além de revogar a custódia brasileira da embaixada, o governo Maduro ordenou na sexta-feira (6) um cerco ao local, elevando a tensão entre os países.

No domingo (8), o Itamaraty afirmou que as medidas foram reduzidas de forma importante. Homens encapuzados que estavam nos muros do local e nas ruas foram retirados. Mas ainda existiria um controle de quem entra ou sai da rua que dá acesso à embaixada.

A eletricidade, que havia sido cortada, também voltou.

A mudança coincidiu com a saída do país de Edmundo González, opositor e candidato à presidência. Ele pediu asilo na Espanha e já está em Madri, depois que foi alvo de uma ordem de prisão.

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No entanto, não houve uma mudança quanto à revogação. Em nota, o governo venezuelano afirmou que decidiu revogar a custódia brasileira da embaixada da Argentina em Caracas por ter "provas" de que o local está sendo usado para planejamento de atos "terroristas" e de "tentativas" de assassinato contra Maduro e sua vice, Delcy Rodríguez.

As provas, no entanto, não foram apresentadas.

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