Jamil Chade

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Reportagem

Queimadas, Gaza, Maduro e Musk: o discurso de Lula na ONU

Já era madrugada entre sábado e domingo quando os assessores do Palácio do Planalto admitiam que continuavam a trabalhar sobre o discurso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, na terça-feira.

Mas alguns dos principais pontos começavam a se consolidar no texto. Ainda que mudanças possam ser realizadas até o último momento, com o próprio presidente escolhendo retirar ou incluir algum aspecto, o governo brasileiro desembarcou em Nova York com o que parecia ser um esboço da mensagem de Lula ao mundo.

Um dos pontos centrais é o apelo do país por uma reforma dos organismos internacionais, tom que será dado desde este domingo na Cúpula do Futuro, iniciativa da ONU que tem como meta resgatar os organismos internacionais de uma crescente irrelevância.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será um dos primeiros a discursar neste domingo e vai usar o palanque para reconhecer os avanços do pacto, mas alertar que uma mudança mais profunda terá de ocorrer. Dois dias depois, ao abrir a Assembleia Geral da ONU, Lula voltará a insistir na necessidade de uma reforma, enquanto seus assessores avaliam como apresentar uma proposta que peça até mesmo a possibilidade de se convocar uma espécie de "constituinte" para redigir uma nova Carta das Nações Unidas.

Como o UOL já revelou na semana passada, a resistência dos EUA e da China sobre o tema é considerada como um obstáculo real ao avanço dessa reforma.

O que mais deve incluir o discurso:


Queimadas e clima

Lula pretendia chegar à ONU com dados fortes sobre a queda de desmatamento para permitir que ele assumisse um protagonismo global na questão climática. Mas as queimadas das últimas semanas transformaram esse cenário.

O presidente não adotará uma postura negacionista e nem repetirá a fórmula de Jair Bolsonaro, que culpou indígenas e a população local pelas queimadas. O tom será um equilíbrio entre o reconhecimento dos desafios diante da seca histórica, mas também um alerta sobre como os fatos no Brasil estão interligados às mudanças climáticas causadas por décadas de emissões principalmente dos países industrializados.

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Nos dias que antecederam à reunião, a diplomacia brasileira e a primeira dama Janja Lula da Silva fizeram discursos que também alertaram para o caráter criminoso dos incêndios. A menção pode voltar a aparecer no discurso do presidente, num esforço do Brasil de apresentar "as suas versões do fato" diante do mundo.

Plataformas digitais e Musk

Outro tema que estará presente na viagem de Lula para Nova York é a necessidade de que países possam defender suas soberanias diante de ofensivas como a de Elon Musk. O presidente não deve citar o nome do bilionário. Mas os rascunhos do discurso apontam que a questão do poder das plataformas digitais deve fazer parte dos alertas de Lula ao mundo.

Na terça-feira, numa reunião entre cerca de 20 democracias, a questão das redes sociais também entrará na mensagem do presidente brasileiro.

Gaza

Uma das certezas ainda é de que Lula traga em sua fala uma condenação à violência e destruição em Gaza. O presidente deve citar a "desproporcionalidade" entre os ataques do Hamas, que serão devidamente condenados, a reação de Israel de destruir todo um território.

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A diplomacia brasileira não apostava que Lula citaria uma referência a um "genocídio". Mas a preparação do discurso sugere que o brasileiro adotará uma postura enfática.

Maduro

Não se descarta ainda que Lula cite a situação na Venezuela em seu discurso. O brasileiro, porém, não adotará uma postura de condenação de Nicolás Maduro. Mas buscará um tom que permita deixar claro a preocupação do país em relação à crise e construir uma saída negociada para o impasse político.

Extrema direita

Durante sua passagem pela ONU, Lula ainda sediará uma reunião com democracias para tratar dos extremismos e suas ameaças para países. O foco será a extrema direita e o plano é de que cada país apresente seu "cardápio" de medidas que tomou para enfrentar uma ofensiva antidemocrática.

O debate ainda será a ocasião de buscar formas para fazer a democracia ser um sistema atrativo. Parte disso, segundo a visão do governo brasileiro, é o de sair ao resgate dos excluídos da globalização.

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