Jamil Chade

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Brasil e China criam 'grupo da paz' para a Ucrânia; Zelensky critica

Brasil e China criaram oficialmente um grupo de países para trabalhar pela paz na guerra entre Ucrânia e Rússia, ainda que não haja qualquer sinal por parte de Kiev e Moscou de que exista uma intenção de negociar um acordo neste momento.

Nesta sexta-feira (26), na sede da ONU em Nova York, os dois governos reuniram 17 países emergentes, além de observadores como Hungria, Suíça e França, na esperança de iniciar um processo negociador para a guerra que já dura mais de dois anos. Nem todos, porém, assinaram o documento final.

O projeto ainda foi imediatamente criticado pelo governo da Ucrânia, que insiste que se trata de uma iniciativa de apoio velado aos interesses russos. O Brasil nega.

Wang Yi, chanceler da China, fez o anúncio e indicou que o bloco poderia até mesmo usar um mecanismo já existente para tratar de crises internacionais, dentro da ONU. O grupo original que será usado conta com Egito, África do Sul e Indonésia, além de Brasil e China. Mas o novo "grupo da paz" será mais amplo.

A base do projeto é o acordo assinado entre China e Brasil em maio e que estabelece seis princípios para lidar com a guerra, entre eles a não expansão do campo do conflito, a recusa do uso de armas nucleares e a convocação de uma conferência de paz com russos e ucranianos.

'Leva tempo para que as pessoas entendam'

Celso Amorim, assessor especial da presidência, apontou como a reunião desta sexta-feira é a realização do projeto inicial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de ter um "grupo de amigos da paz". "Levou tempo. Leva tempo para que as pessoas entendam que outros caminhos não conduzem à paz. Mas conseguimos", disse. Lula vinha propondo a iniciativa desde que venceu a eleição, em 2022.

Mas sofreu resistência por parte de americanos e europeus. Uma das críticas de Washington era de que não havia um compromisso de denunciar a invasão russa.

"É um primeiro passo. Era apenas Brasil e China, e agora temos uma participação mais ampla", disse. Segundo Amorim, o trabalho ocorrerá na ONU.

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Fizeram parte da reunião:

Argélia, Bolívia, Colômbia, Egito, Etiópia, Indonésia, Emirados Árabes, Cazaquistão, Quênia, México, África do Sul, Tailândia, Turquia, Vietnã e Zâmbia, juntamente com a China e o Brasil e três observadores — França, Suíça e Hungria.

Quando a declaração final anunciada, alguns deles não aderiram. Etiópia e Emirados Árabes não assinaram o documento final.

Zelensky critica iniciativa, Amorim ironiza e Brasil se reúne com Rússia

Volodymir Zelensky, presidente da Ucrânia, criticou a iniciativa e questionou se isso não seria uma operação que favoreceria a Rússia. O ucraniano insiste que apenas o seu plano de paz pode ser considerado como uma base para o diálogo. Mas, para os russos, o próprio projeto representaria sua capitulação. Nem Kiev e nem Moscou estavam na sala de reuniões.

"Não somos parte do conflito", disse Wang. "Queremos ser parceiros de ucranianos e russos para chegar à paz", explicou.

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Amorim evitou responder aos comentários de Zelensky e ironizou. "Não sei se ele está incomodado. Não me falou, não percebi", disse.

"Somos um grupo de amigos da paz. Nem amigos da Rússia e nem da Ucrânia", insistiu o assessor de Lula e artífice do projeto pelo lado brasileiro.

O embaixador explicou que os ucranianos serão eventualmente envolvidos no processo. "Eles serão parte do processo quando o momento certo chegar", disse. "Quantas vezes os países já acharam que venceriam a guerra com facilidade e depois ficou difícil. Talvez esse momento ainda não tenha chegado. Mas vai chegar", disse. "E, quando chegar, vamos mostrar que temos um caminho", afirmou.

Menos de cinco horas depois, o chanceler Mauro Vieira se reuniu com o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov. O chefe do Itamaraty, porém, também havia estado com o novo chanceler ucraniano, no início de sua viagem para Nova York.

Brasil diz que planos estão esgotados

O governo brasileiro destacou, no começo do encontro, que todos os planos apresentados até agora estavam esgotados.

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"A posição do Brasil em relação ao conflito na Ucrânia tem sido clara e firme desde o início", disse o chanceler Mauro Vieira. Segundo ele, Lula "condenou abertamente a guerra na Ucrânia, afirmando que o mundo não pode se permitir conflitos militares".

Ele disse que o Brasil defende a integridade territorial, mas insiste que o diálogo é "o único caminho sustentável para a paz". "Pedimos um cessar-fogo imediato e acesso humanitário às pessoas afetadas", disse.

O chanceler relatou como o Brasil participou dos diferentes esforços diplomáticos e insistiu que a paz "não pode ser alcançada por meios militares ou por decisão unilateral".

Mauro Vieira, porém, insistiu que todos os projetos "chegaram ao seu limite". "Agora é hora dos novos. Hoje reunimos aqui um grupo amplo, unido em nosso compromisso com uma solução pacífica para a Ucrânia", disse.

O brasileiro apontou que a iniciativa não tem como objetivo duplicar esforços. "Nossa meta é acelerar os esforços diplomáticos que estão estagnados e estabelecer um consenso em torno dos principais elementos que garantirão um acordo justo e duradouro", afirmou, alertando sobre a paralisia das instituições multilaterais.

Vieira explicou que não se trata de um plano de paz. Mas de um trabalho que possa conduzir a uma conferência e negociações. Apenas três princípios seriam estabelecidos: que não haja expansão do campo de batalha, sem discursos que possam ampliar a crise e o foco no diálogo.

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O centro da iniciativa é que possa haver um projeto que inclua tanto Rússia quanto Ucrânia.

"Esperamos que todos os países apoiem esses pontos, mas o mais importante é que queremos desenvolvê-los juntos", disse Vieira. "Hoje é apenas o início de uma conversa mais ampla. Nosso objetivo é trazer novas perspectivas, garantindo que a resolução seja justa, duradoura e nos leve de volta à diplomacia e ao diálogo desbloqueado no fórum internacional", completou.

Já Amorim questionou outras iniciativas, apontando como seriam apenas lideradas pela Ucrânia. "Todo mundo sabe que foi uma discussão interessante, mas ela tinha um defeito principal: não incluía a Rússia. E, desde o início, pensamos que só poderíamos ter paz se as duas partes estivessem à mesa", afirmou.

Amorim, apesar de apontar para a base no acordo com a China, destacou como a meta agora é ampliar o grupo. Segundo ele, não se exclui que isso possa vir também do Ocidente ou dos países ricos.

"Os termos reais da paz precisam ser encontrados entre as partes", disse. "Levar a luta do campo de batalha para a mesa de negociações não será um processo fácil, mas acho que é algo que podemos alcançar", disse.

Amorim também sugeriu que nem todos levarão o que desejam, insinuando que concessões terão de ser feitas. Para ele, uma paz pode ser alcançada. "Não necessariamente a paz ideal, mas uma paz possível", disse.

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