Mercosul e UE sinalizam fim de impasses e pacto pode ser anunciado amanhã
Depois de 25 anos de negociações, frustrações, forte lobby e desilusões, Mercosul e a União Europeia sinalizam um entendimento para a criação do maior bloco comercial do mundo. O anúncio, se nenhuma surpresa aparecer durante as próximas horas, pode ser realizado nesta sexta-feira, em Montevidéu, durante a cúpula do Mercosul.
No nível técnico, o processo foi encerrado e, segundo diplomatas no Itamaraty e na UE, não existiriam mais motivos aparentes para um colapso do processo. Negociadores confirmaram que as pendências "parecem solucionadas". Para fontes na chancelaria brasileira, "tudo está encaminhado para um anúncio" na sexta-feira.
O governo da Argentina chegou a ensaiar uma chantagem, insistindo que os pleitos de Javier MIlei por uma mudança nas regras do Mercosul deveriam ser aceitos, em troca do sinal verde de Buenos Aires a um acordo. Mas a aposta dos demais países é de que a tendência liberal do argentino pese para que ele aceite a abertura de mercados.
Conforme o UOL revelou ainda na madrugada de quarta-feira, a decisão da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de ir até o Uruguai foi interpretado por negociadores como um sinal de que os europeus estavam dispostos a encerrar os últimos obstáculos. Ela havia alertado que apenas embarcaria se houvesse uma chance real de um acordo.
Pelo pacto, o Brasil conseguiu eliminar tarifas para bens como etanol, açúcar e carnes no mercado europeu, ainda que tenha de respeitar uma cota modesta. Do lado europeu, o pacto permite um maior acesso ao Mercosul para seus bens industriais e automóveis - uma ambição da Alemanha - assim como itens específicos como o vinho e facilidades para investimentos.
Depois de uma dura negociação, o Brasil ainda conseguiu preservar áreas estratégias para seu projeto de reindustrialização, como no setor de remédios, saúde e a preservação de pequenas e médias empresas. No campo de licitações públicas, o acordo prevê uma certa proteção para a indústria nacional nesses segmentos sociais.
Uma das preocupações era a de que as compras públicas do SUS não fossem tomadas pelos europeus, abalando a balança comercial.
Resistência para ratificação
Para que o texto entre em vigor, porém, negociadores admitem que o processo pode levar meses ou até anos. A maior dificuldade é garantir uma maioria do Conselho da Europa, com seus 27 membros. Após essa etapa, o acordo ainda precisa ser aprovado pelo Parlamento Europeu.
França, Holanda e Polônia já anunciaram que tentarão se opor e criar uma aliança com Itália e outros governos contrários ao que foi negociado pela Comissão Europeia. Mas Alemanha, Espanha, Portugal e os países escandinavos pressionarão por um pacto.
Nesta quinta-feira, o presidente Emmanuel Macron mandou um recado para a presidente da Comissão, insistindo que o acordo, da forma que está, seria "inaceitável". Nos bastidores, ele insiste que um acordo pode ampliar a insatisfação da opinião pública francesa e dar forças para a extrema direita, que se apresenta como a defensora dos agricultores. Os ecologistas também hesitam, enquanto a esquerda busca se legitimar diante de trabalhadores cada vez mais frustrados.
O governo italiano também sinalizou nesta quinta-feira que, por enquanto, não endossará o tratado.
Negociadores do Mercosul, porém, acusam os governos europeus de manipularem o bloco sul-americano e apresenta-lo como um bode expiatório para problemas domésticos de falta de produtividade.
Para experientes diplomatas, o processo pode levar até dois anos para que, de fato, o acordo entre em vigor.
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