Jamil Chade

Jamil Chade

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Trump fará ofensiva para desmontar influência chinesa na América Latina

O governo de Donald Trump vai conduzir uma ofensiva para desmontar a influência chinesa na América Latina, com ações para renegociar o acesso ao Canal do Panamá, pressionar por uma mudança de governo em Cuba e ampliar investimentos na região. O novo presidente, que assume na próxima segunda-feira, ainda denuncia como Venezuela e Nicarágua se transformaram em bases para interesses russos e iranianos na região, ameaçando a segurança americana.

A estratégia ficou evidenciada durante as cinco horas de sabatina de Marco Rubio, escolhido por Trump para liderar sua política externa. Numa audiência no Senado dos EUA nesta quarta-feira, ele deixou claro que a China é a "maior ameaça" que já existiu aos americanos, superando inclusive a União Soviética.

Já os elogios foram para Javier Milei, presidente da Argentina. Em cinco horas de sabatina, nenhuma referência foi feita ao Brasil.

Rubio, que terá a missão de ser o secretário de Estado, é um velho conhecido do governo Lula. Nos últimos dois anos, ele tem criticado e atuado nos bastidores, acusando Brasília de ajudar Nicolas Maduro e outros líderes de esquerda na região. Ele também foi uma das vozes a atacar o Brasil por conta do tratamento a Elon Musk.

Na sabatina, o nomeado indicou que vai adotar uma postura dura contra Venezuela, Cuba e Nicarágua. Mas não foi exatamente a defesa da democracia que o conduziu em seu argumento.

Um dos pontos centrais dessa ofensiva contra a China ocorrerá justamente o Hemisfério Ocidental.

Cuba: base chinesa e indicação de novas sanções

Rubio, filho de cubanos, indicou como a ilha caribenha passou a ser base dos chineses, com a capacidade de monitoramento das atividades americanas.

O futuro secretário de Estado apontou que vai continuar pressionando pela democracia em Cuba. Segundo ele, a ilha vive um "colapso". "O marxismo não funciona", insistiu. "Eles terão de fazer escolhas. Eles terão de se abrir para o mundo e para que cidadão possa ter controle de seu destino. Ou continuar sendo um país de quarto mundo", disse.

Continua após a publicidade

Nesta semana, o governo de Joe Biden suavizou parte das sanções contra a ilha. Mas republicanos já indicaram que tentarão reverter a decisão. Rubio ainda apontou que nada nas decisões de Biden obriga Trump a mantê-las. "Todos sabem meus sentimentos e do presidente Trump", disse.

Para ele, Cuba continua sendo um país que apoia organizações terroristas. "São amigos de Hamas e Hezbollah, contam com estação de espionagem de outros países, eles têm ligações com Irã", disse. "Há zero dúvidas de que eles continuam sendo um país que apoiam o terrorismo", completou.

Canal do Panamá controlado pela China

Rubio ainda afirmou que vê como uma ameaça a presença de empresas chinesas no Canal do Panamá e que a ofensiva de Trump neste sentido tinha como objetivo rediscutir essa realidade. Segundo ele, as companhias do país asiático estão em ambas as entradas da passagem. "Mas elas não são independentes e, num momento de crise, podem ser usadas por Pequim para fechar o canal", disse.

Trump vem ameaçando "retomar" a passagem e abriu uma polêmica ao anunciar que poderia até mesmo usar as forças armadas para isso. "Essa preocupação não é nova", alertou Rubio. Segundo ele, os EUA não entregaram o canal para que, agora, seja controlado por outro país. "Espero que possamos resolver isso", disse.

Groenlândia e a ameaça chinesa

Até mesmo o debate sobre a compra ou anexação da Groenlândia envolve uma defesa em relação aos interesses chineses. Segundo Rubio, os americanos já tiveram base na região. Mas o foco no território se refere à possibilidade de que, nos próximos anos, o local seja estratégico para a navegação.

Continua após a publicidade

"Essa vai ser a região mais estratégica pelos próximos 50 ou 100 anos", disse, sem citar que é o aquecimento global negado por TRump que tem gerado o degelo. Segundo ele, Pequim se preparou para estar presente no Ártico.

China controlando minérios latino-americanos

Rubio fez questão ainda de destacar o papel da China, inclusive ganhando espaço na mineração no Chile e Argentina, além de portos. Segundo ele, o atual governo em Buenos Aires sequer consegue se desfazer dos acordos fechados nas administrações anteriores, diante das condições impostas.

O nomeado por Trump deixou claro que a China é a maior ameaça que os EUA jamais tiveram, superando mesmo a União Soviética. "Isso vai definir o século 21", disse. Segundo ele, "os chineses acham que estamos em inevitável declínio".

Segundo ele, em menos de 10 anos se os EUA não mudarem de política, "tudo que precisamos vai depender se a China nos autorizará a ter ou não". Rubio destacou que Pequim controla hoje cadeias de fornecimento "de quase tudo". "Se não mudarmos de percurso, de segurança à saúde, vamos depender se China nos autoriza a ter ou não", disse.

Rubio ainda alertou que a China faz uma "ação agressiva" para que Panamá, Nicarágua e Republica Dominicana" de abandonar o reconhecer a soberania de Taiwan.

Continua após a publicidade

Nesta quarta-feira, ele usou sua sabatina para acusar a China de ignorar suas responsabilidades, de "mentir e hackear para obter seu lugar como superpotência".

Para ele, não apenas a ordem mundial está obsoleta. "Mas é um instrumento contra os EUA", disse. "Somos chamados a criar um mundo livre a partir do caos. Não será fácil", disse. Ele prometeu colocar o interesse americano no centro de sua administração, e não a preservação da ordem mundial.

O "nosso hemisfério"

Jim Risch, senador republicano de Idaho e que presidiu a sabatina, alertou que os "inimigos" tentam enfraquecer os EUA e criticou o governo de Joe Biden. "Aliados nos questionam e os inimigos acham que tem mãos livres. Mas isso acabou", disse. Para ele, a China é maior risco para os EUA, com Pequim questionando em todos os lugares, inclusive na América Latina. A região foi chamada por ele como "o nosso hemisfério".

Rick Scott, senador republicano de Flórida, disse que Rubio é o "homem perfeito" para liderar a diplomacia de Trump. "Conheceu desde pequeno o sofrimento do socialismo"", disse. Para ele, o Rubio vai ser "fundamental" para "promover a democracia" na América Latina. Ele ainda lembrou que o nomeado trabalhou com Trump para "punir regimes comunistas", incluindo Cuba, China, Venezuela e Nicarágua.

Iranianos e russos na Venezuela

Rubio ainda confirmou que adotará uma linha dura com outros países da região. "A Venezuela é governada por uma organização do narcotráfico", disse. Segundo ele, o presidente Joe Biden foi manipulado por Nicolás Maduro, ao negociar o fim de sanções, em troca de eleições livres. "Agora, a Chevron está ajudando aos cofres venezuelanos", lamentou.

Continua após a publicidade

Segundo Rubio, o que preocupa ainda é a presença de russos e iranianos na região. Ele alegou, ainda, que o regime iraniano está produzindo drones em território venezuelano e que o regime vem tanto dando passaportes para operativos de Hezbollah.

Nicarágua 'oferece base para russos'

No caso da Nicarágua, Rubio indicou que os sandinistas "abriram guerra contra a Igreja Católica e agora querem instaurar uma dinastia familiar". "A democracia foi varrida. Expulsaram pessoas e colocaram na prisão qualquer um que queira ser presidente", disse.

O nomeado por Trump ainda indicou que o país passou a ser uma ameaça à segurança dos EUA por ter se tornado um ponto de entrada para o território americano. Daniel Ortega passou a permitir que qualquer um possa viajar para o país e, de lá, seguir viagem para os EUA.

Além disso, ofereceram uma base naval para a Rússia. "Isso é uma ameaça para nossa segurança", insistiu.

Elogios para Milei

Durante a sabatina, o nomeado foi questionado sobre a tradicional postura dos governos americanos de ignorar a América Latina. Ele concordou, indicou que deve ampliar a ajuda a aliados na região e usou a ocasião para elogiar Milei. "Ele é um economista sério e está tomando medidas necessárias", afirmou. O argentino é esperado para a posse de Trump, na próxima segunda-feira.

Continua após a publicidade

Ditadores latino-americanos

Sem dar detalhes, ele acusou o "narcoterroristas e ditadores" latino-americanos de usar as "nossas fronteiras abertas para promover uma migração em massa e inserir grupos criminosos e violentos nas cidades americanas".

Em outro momento da sabatina, Jeff Merkley, senador democrata de Oregon, questionou se ele designaria cartéis de drogas como grupos terroristas. Rubio não descartou essa opção e nem o eventual uso de forças armadas.

"São empresas sofisticadas e operam com tráficos de pessoas, migrantes e drogas. E controlam parcelas de fronteira, temos de dizer isso aos mexicanos", disse. "São terroristas em sua natureza", disse, insistindo que vai dar preferência a uma negociação com o governo mexicano para lidar com a situação.

Rubio levou para a sabatina sua família num gesto para mostrar que 1956, seus pais chegaram aos EUA vindos de Cuba. "Não tinham nada, a não ser um sonho", disse, fazendo questão ainda de declarar que sua fé o guiaria no trabalho.

Enquanto falava, a sabatina foi alvo de protestos, com duas pessoas expulsas nos primeiros minutos. Momentos depois, mais duas pessoas seriam expulsas da sala, depois de protestos em espanhol.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

25 comentários

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.


Paulo Roberto Jerônimo da Silva

Coitado. Acha que vive ainda na década de 60, mas se a China resolver cobrar a dívida dos Estados Unidos, é o fim da grande potência da América.

Denunciar

Marcus Vinicius Lopes Camacho Meyer

oBOÇALNAROusa é motivado não pelo cargo de presidente ou pelo bem do povo , mas sim por seus próprios negócios 

Denunciar

Adelson Paulo de Araújo

Falar é fácil. Parar a China é outra coisa totalmente diferente.

Denunciar