Bolsonaro atira na imprensa e acerta o próprio pé
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Jair Bolsonaro concedeu uma entrevista natalina a José Luiz Datena. Queria tranquilizar o país. Escorregara no banheiro do Alvorada na véspera. Batera com a cabeça no chão. Passara a noite no hospital, sob monitoramento. "Eu perdi a memória parcial", contou. "Hoje de manhã comecei a recuperar muita coisa..." Na conversa, revelou-se alheio à realidade processual do filho Flávio. Meio fora de si, mostrou o que tem por dentro. Atribuiu à Globo o drama do Zero Um. Ou seja: está 100% recuperado.
Bolsonaro comete um erro comum aos políticos em apuros. Não consegue perceber que a imprensa, embora se alimente da crise, não é a crise. "Quando alguém erra, a lei é aplicada", declarou. "O processo dele está correndo em segredo de Justiça. O que justifica esse vazamento [de informações] para aquela grande rede de televisão? Acho que o objetivo dessas divulgações é me prejudicar".
Por enquanto, o nome da crise é Flávio Bolsonaro. Ao chamar a encrenca de Globo, o capitão sinaliza que a crise logo, logo pode ser rebatizada. Quando passar a se chamar Jair Bolsonaro, o presidente começará a enxergar o óbvio: pior do que uma crise, só duas crises.
Bolsonaro ainda não reparou, mas não é possível desfazer uma crise criando-se outra maior. Pior do que uma encrenca envolvendo o primogênito do monarca, só duas encrencas: a do filho e outra estrelada pelo pai. O melhor seria resolver a crise, condenando a imprensa a mudar de assunto. Mas Bolsonaro, especialista em criar crises, não sabe como desfazê-las. Por isso, atira na imprensa sem notar que acerta o próprio pé.
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