Sob chefe infeccioso, Mandetta acha mídia 'tóxica'
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Em governo de cegos, quem tem um olho, como o doutor Mandetta, não diz a ninguém que o rei está nu. Prefere enxergar problemas na imprensa.
Na contramão do que recomendara o seu ministro da Saúde no sábado, Bolsonaro trocou o isolamento do Alvorada por um passeio pela periferia de Brasília no domingo.
O presidente, 65, compõe o grupo de risco do coronavírus. A despeito disso, foi às ruas e ao comércio. Atiçou aglomerações. Pregou contra o confinamento.
Na véspera, Mandetta soara compreensivo com a suposta agonia do chefe para religar as fornalhas da economia.
"O presidente está certíssimo quando diz que a crise da economia vai matar as pessoas. E somos 100% engajados de achar as soluções junto com a equipe da economia."
Mandetta pedira "calma". Bolsonaro deu de ombros. Ameaçou reabrir o comércio na marra, liberando os confinados para trabalhar via decreto presidencial.
Para adular o chefe, Mandetta injetara num encontro com repórteres um ataque à imprensa —aquela que Bolsonaro acusa de transformar "gripezinha" em "histeria."
"Desliguem um pouco a televisão", aconselhara o ministro da Saúde no sábado. "Às vezes ela é tóxica demais."
Quem desligou a tevê perdeu as cenas em que Bolsonaro humilhou Mandetta, ignorando-o.
As imagens estavam disponíveis também nas redes sociais. Mas o Twitter apagou. Considerou que elas intoxicam as regras das autoridades sanitárias.
"Os meios de comunicação são sórdidos, porque eles só vendem se a matéria for ruim", queixara-se Mandetta.
"Nunca você vai ser um jornal falando assim: 'Uma pessoa estava sorrindo hoje na rua'", dissera o ministro.
Nesta segunda-feira, Mandetta encontrará na primeira página dos jornais, ao lado da notícia sobre os cadáveres, um Bolsonaro que sorri para a pandemia.
O doutor terá, então, a oportunidade de responder para si mesmo uma indagação incômoda: O que é mais degradante, ministro cego ou presidente infeccioso?
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