Bolsonaro torce para que Gonet atrase o relógio da Procuradoria
Até outro dia, Bolsonaro vangloriava-se de ser "imorrível", "imbrochável" e "incomível". A partir do indiciamento por tentativa de golpe, passou a ser também indefensável. Na primeira reação, renovou a pose de vítima, atacou Alexandre de Moraes e incluiu Paulo Gonet no seu baralho: "É na Procuradoria-Geral da República que começa a luta."
Sem dispor de uma defesa crível, Bolsonaro joga com o tempo e o tumulto processual. Interessa ao capitão embaralhar o jogo, retardando a distribuição das cartas. A eficácia da estratégia que mistura vitimização com embromação será eterna enquanto as autoridades permitirem que dure.
Bolsonaro torce para que Gonet atrase o relógio da Procuradoria. Ao empurrar a apresentação da denúncia para dentro do ano de 2025, o procurador-geral corresponde à expectativa do chefe da quadrilha.
O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo, já afirmou que trabalha com "a firme expectativa" de que o julgamento do alto-comando do golpe ocorrerá "bem antes" do final de sua gestão. A presidência de Barroso vai até setembro de 2025.
Em resposta ao desejo das togas mais ansiosas, o capitão indefensável acionará o modo cansaço. Envolve a apresentação de recursos judiciais sucessivos e inúteis no Supremo. As petições discutirão mais filigranas processuais que o mérito das acusações.
Se deixarem, Bolsonaro acionará a terceira fase de sua estratégia. Prevê a repetição em 2026 da fórmula adotada por Lula em 2018. O mito registraria no TSE uma candidatura presidencial inviável, com um filho na vice. Confirmada a inelegibilidade, o estepe assumiria a chapa.
Em 2018, Fernando Haddad substituiu Lula. Deu em Bolsonaro. Em 2026, se uma candidatura fake de Bolsonaro for substituída por um filho, a manobra pode impulsionar Lula 4.
Deixe seu comentário