Representante do Estado esculhambado, Mandetta negocia com crime organizado
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Num país como o Brasil, que se equilibra à beira do vácuo, há muitas definições para abismo. Mas nada se parece mais com o fundo do buraco do que um Estado que, para levar serviços essenciais como saúde às comunidades pobres, precisa negociar com a bandidagem.
Henrique Mandetta informou que o combate ao coronavírus no Rio envolverá esse tipo de negociação. "Começamos o primeiro plano de manejo", contou o ministro da Saúde. "E não vou falar em que comunidade será."
O ministro fez uma declaração muito parecida com uma rendição: "Você tem que entender que são áreas em que, muitas vezes, o Estado está ausente. Quem manda é o tráfico, quem manda é a milícia. Como a gente constrói essa ponte em nome da vida? A Saúde dialoga, sim, com o tráfico, com a milícia, porque eles também são seres humanos e precisam colaborar, ajudar, participar."
Sob Wilson Wietzel, vigorava nos pedaços pobres do Rio apenas a política estadual baseada na teoria do "tiro na cabecinha." Agora, se a delinquência permitir, os agentes de saúde subirão o morro armados de testes e medicamentos.
Como os criminosos já dão as cartas há muito tempo e, mesmo assim, o brasileiro continua assistindo às suas novelas e se esforçando para pagar os seus carnês, o país vivia a ilusão de que o inferno seria apenas uma ficção admonitória que nunca se tornaria uma realidade irrefutável. Foi preciso uma pandemia para lembrar o Brasil da existência de si mesmo.
Integrante de um governo civil em que ministros militares se esforçam para presidir um presidente ingovernável, Mandetta tornou-se a face do Estado esculhambado. Negociará a saúde dos morros cariocas com o crime organizado.
Se o time de Mandetta tiver dificuldades de interlocução, o ministro pode interromper o isolamento social do ex-PM Fabrício Queiroz, o 'faz tudo' do clã Bolsonaro. Trata-se de um PhD em milícia.
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