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Josias de Souza

Bolsonaro tira Guedes do respirador. Até quando?

Cláudio Reis/Framephoto/Estadão Conteúdo
Imagem: Cláudio Reis/Framephoto/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

27/04/2020 15h34

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Jair Bolsonaro declarou: "O homem que decide economia no Brasil é um só, chama-se Paulo Guedes". O comentário soou como uma espécie de revalidação da carta branca. A essa altura, porém, quem acreditar piamente na palavra de Bolsonaro perde o direito de piar quando o presidente voltar atrás.

A exemplo do sapo de Guimarães Rosa, não foi por boniteza que Bolsonaro prestigiou Guedes, mas por precisão. Depois de fabricar crises que levaram ao desembarque dos popularíssimos Henrique Mandetta (Saúde) e Sergio Moro (Justiça), o capitão explodiria o governo se tocasse fogo no Posto Ipiranga.

Bolsonaro levou a mão ao extintor porque Guedes e sua equipe ameaçavam limpar as gavetas se o governo não retirasse da mesa o recém-anunciado Pró-Brasil, um programa de investimentos com uma cara de PAC petista. Feito à revelia de Guedes, o plano previa gastar um dinheiro público que não existe.

A meia-volta de Bolsonaro recolocou Guedes momentaneamente no jogo: "Queremos reafirmar a todos que acreditam na política econômica que ela segue, é a mesma política econômica. Nós vamos prosseguir com as nossas reformas estruturantes. Vamos trazer bilhões em investimentos..." Acreditar no gogó do ministro também é uma questão de fé.

O antiliberalismo do Pró-Brasil foi apenas a interferência mais recente do Planalto na agenda do ministro da Economia. Antes, vieram a demissão de Joaquim Levy da Presidência do BNDES, a exoneração de Marcos Cintra da Receita Federal, o sepultamento da proposta de reforma tributária, a suspensão de um reajuste do diesel e o engavetamento do projeto de reforma administrativa.

Paulo Guedes agora refere-se ao Pró-Brasil como um mero estudo. Algo a ser conduzido "dentro dos programas de recuperação de estabilidade fiscal", pois "nós não queremos virar a Argentina, não queremos virar a Venezuela." O diabo é que o problema é outro.

Não é que Bolsonaro seja igual ao ex-presidente argentino Mauricio Macri ou ao ditador venezuelano Nicolás Maduro. A questão é que o capitão é muito diferente do presidente confiável que diz ser. Num instante em que ainda não anunciou o substituto de Moro, Bolsonaro avaliou que não seria uma boa ideia manter Guedes na UTI da dúvida, acoplado a um respirador artificial.

O recuo tático não faz de Bolsonaro um ex-Bolsonaro. A dúvida não é se o presidente voltará a desprestigiar Guedes, mas quando ele puxará novamente o tapete do "homem que decidir economia no Brasil." Tic, tac, tic, tac, tic...