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Josias de Souza

Dimenstein gastou a vida em algo que sobrevive a ela

Colunista do UOL

29/05/2020 14h29

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Gilberto Dimenstein morreu. Estava em Montevidéu, no Uruguai, quando soube que Gilberto guerreava contra um câncer. Quem me contou foi ele mesmo, por meio de um texto que publicou na Folha, em 30 de dezembro de 2019.

A certa altura, Gilberto anotou: "Descobri que meu pavor era passar a vida sem propósito. Olhei para trás, e, apesar de todas as minhas delinquências —que não foram poucas—, acho que fiz mais bem que mal."

Cogitei telefonar para o amigo. Precisava dizer-lhe que minha própria trajetória —pessoal e profissional— era uma evidência de que ele fizera muito, muitíssimo mais bem. Pensei melhor: não, certas coisas precisam ser ditas pessoalmente.

De volta ao Brasil, programei uma ida a São Paulo. Passei um pedaço de tarde com Gilberto. Conversamos durante horas. Tive, então, a oportunidade de afirmar, olho no olho, o quanto Gilberto influenciou a minha trajetória. Rimos muito. Choramos.

Dias atrás, pediram-me para gravar um depoimento em vídeo, para compor um mosaico a ser exibido para o Gilberto numa homenagem que ocorreria na tarde desta sexta-feira.

Enviei o vídeo que pode ser assistido abaixo. Nele, repeti algo que dissera ao Gilberto: a vida é tão fabulosa que você não pode fazer dela um rascunho. Não dá tempo de passar a limpo depois.

Todos existimos, mas poucas pessoas vivem de verdade. Viver de verdade significa gastar a vida em algo que sobreviva a ela. Gilberto fez isso. Sua obra está ao redor. De resto, posso dizer porque há um pouco de Gilberto na minha alma.