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Josias de Souza

Faria discursa como ministro do governo errado

Colunista do UOL

17/06/2020 21h24

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Fábio Faria, o novo ministro do velho Ministério das Comunicações, utilizou expressões que se tornaram inusuais na Brasília de Bolsonaro. Coisas como "abertura ao diálogo", "armistício patriótico, eliminação de "diferenças político-ideológicas", "pacificar o país" e "levantar a guarda contra o coronavírus". O ministro expressou-se com respeito aos que pensam diferente. Ou seja: Fábio Faria pronunciou ao lado de Bolsonaro não um discurso de posse, mas um libelo de oposição.

O diálogo preferido de Bolsonaro é aquele em que ele faz o interlocutor calar a boca. A ideia de armistício não orna com a Presidência de trincheira que funciona sob Bolsonaro. O presidente não parece interessado em eliminar, mas em realçar as diferenças político-ideológicas. De costas para a pacificação, o presidente guerreia no momento com o Supremo. Bolsonaro tampouco está interessado em "levantar a guarda contra o coronavírus". No enredo do presidente, o combate ao vírus foi transferido pelo Supremo aos governadores e prefeitos.

Quem ouviu o novo inquilino da Esplanada teve a sensação de que Fábio Faria virou ministro do governo errado. Essa impressão foi potencializada pelos afagos do novo ministro nos meios de comunicação tradicionais. "A mídia continua entre as prioridades desse governo", disse o ministro, antes de elogiar indistintamente a TV aberta e fechada, os jornais impressos, os veículos de internet. Resta saber quem deu procuração a ele para dizer que a mídia é prioridade. Não há de ter sido Bolsonaro.

A plateia presente à posse também passou a impressão de que Fábio Faria assumiu o Ministério das Comunicações de um país paralelo. Olhando para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, um desafeto da família Bolsonaro, o ministro chamou-o de "amigo". Recebeu aplausos de Dias Toffoli, o presidente de um Supremo que Bolsonaro acusa de tramar sua derrubada. Fábio Faria falou no discurso de "esperança" e "amor". Ou o ministro se dá conta de que entrou no governo para solidificar a blindagem do centrão contra eventuais ameaças ao mandato de Bolsonaro ou sua gestão esperançosa e amorosa pode ter vida curta.