INSS humilha clientela e Bolsonaro finge não ver
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Deve haver, escondido nos subterrâneos do INSS, uma escola de ineficiência, desrespeito e humilhação. Não é possível que os responsáveis pelo órgão nasçam com tanta tarimba. O instituto é, hoje, o local onde há a maior possibilidade de se criar um órgão público inteiramente novo. Caos não falta.
Fechadas desde março, as agências do INSS programaram-se para reabrir nesta segunda-feira. Houve de tudo, exceto respeito à clientela. A principal demanda era a realização de perícias médicas. Produziram-se filas, reclamações e humilhações. Consultas? Nenhuma. Os médicos não deram as caras.
Cerca de 750 mil brasileiros aguardam na fila por uma perícia que lhes permita começar a receber benefícios como o auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez. Desse total, algo como 7 mil pessoas marcaram hora pelo telefone, como exige o INSS. Deram com a cara na porta.
A Associação Nacional dos Peritos Médicos Federais concluiu que não havia segurança sanitária para a realização dos exames. Avaliou-se que, desprotegidos, doutores e pacientes seriam presas fáceis para o coronavírus. Faltou avisar a clientela.
Crítico do isolamento social, Jair Bolsonaro defende a reabertura de tudo —de boteco a shopping center. Só não consegue reabrir os guichês do INSS. As agências deveriam ter voltado a funcionar em 13 de julho. Nada.
Sob a alegação de que o tempo era curto, reagendou-se a volta para 3 de agosto. Nem sinal. Reprogramou-se o retorno para esta segunda-feira, 14 de setembro. Deu no que deu.
Pela lei, o INSS é obrigado a analisar os pedidos de benefício no prazo máximo de 45 dias. Há pessoas na fila há mais de seis meses. Gente pobre, à espera de auxílio-doença, pensão por velhice ou deficiência (BPC).
Por uma dessas ironias fatais, o INSS coabita com a Receita Federal o organograma do Ministério da Economia. Numa repartição, morde-se o bolso do contribuinte com tecnologia e eficiência dignas do século 21. Noutra, o mesmo Estado oferece serviços do século 19.
O cliente pobre do INSS só será notado por Jair Bolsonaro no dia em que se declarar um brasileiro sem fins lucrativos e se reorganizar como igreja. Nessa condição, não precisará marcar hora. Será recebido com tapete vermelho, subirá pelo elevador privativo e entrará no gabinete presidencial sem bater.
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