Topo

Josias de Souza

Pazuello ganha uma aparência de boi de piranha

Carolina Antunes/PR
Imagem: Carolina Antunes/PR

Colunista do UOL

25/01/2021 20h23

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A maior injustiça que se pode cometer com Eduardo Pazuello é atribuir ao general toda a responsabilidade pela condução precária da pandemia do coronavírus no Brasil. Desde a implosão dos doutores Henrique Mandetta e Nelson Teich, antecessores de Pazuello, o cargo de ministro da Saúde vem sendo ocupado por Jair Bolsonaro. Ele acumula o ministério com as funções de presidente da República. A subordinação do general ao capitão segue uma lógica militar. Nas palavras do próprio Pazuello, "um manda, o outro obedece".

Sob pressão, o procurador-geral da República Augusto Aras pediu ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito para investigar a conduta de Pazuello no colapso do atendimento de saúde no Amazonas. A investigação foi autorizada pela Corte. São eloquentes os indícios de que, avisado previamente de que faltaria oxigênio nos hospitais de Manaus, o Ministério da Saúde demorou a agir. Pior: dias depois de saber do iminente colapso no atendimento dos pacientes de Covid, o ministério entregou em Manaus 120 mil unidades de hidroxicloroquina, o remédio predileto de Bolsonaro.

Quer dizer: a pasta da Saúde enviou um remédio inútil no combate à Covid para hospitais e postos de saúde que lidavam com pacientes que perdiam a vida por falta de cilindros de oxigênio. No pedido encaminhado ao Supremo, Augusto Aras classificou os fatos de "gravíssimos". Levantou a hipótese de ter ocorrido "omissão". Disse que a investigação é necessária para municiar de dados uma "eventual ação judicial" conta o ministro.

Poupado por Augusto Aras, Bolsonaro agora endossa em privado críticas à atuação de Pazuello. Alheios à fidelidade do general às determinações do chefe, auxiliares do presidente já defendem a troca do ministro da Saúde. Pazuello vai ganhando uma aparência de boi de piranha, aquele animal que é jogado no rio para ser comido, enquanto o resto da manada escapa. O general não é o primeiro auxiliar de Bolsonaro a viver esse tipo de experiência. O que há de inédito no caso de Pazuello é a perspectiva de receber em troca da lealdade uma ação judicial.