Militares tentam reaproximar Bolsonaro e Mourão
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Apesar de tudo o que se diz, Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão jamais discutem. Na verdade, o presidente e seu vice já nem se falam. Militares que desfrutam da amizade de ambos tentam promover uma reaproximação. Mourão mostra-se receptivo. Bolsonaro, nem tanto. O problema é que a dupla está condenada pela Constituição a manter relações administrativas. Quando o presidente se desentende com um ministro, manda-o embora. Mas o vice é indemissível.
Bolsonaro não gosta de ser contrariado. Tem horror ao hábito cultivado por Mourão de conversar com repórteres. Irrita-se com as entrevistas em que o vice se expressa como versa, expondo pontos de vista diferentes dos seus. Avaliou que Mourão meteu-se onde não devia ao confirmar a reforma ministerial que está por vir, incluindo o chanceler Ernesto Araújo no rol dos substituíveis.
Para complicar, veio à luz uma troca de mensagens em que um assessor de Mourão insinuou ao auxiliar de um deputado que o vice estaria aberto a conversar sobre impeachment. Mourão demitiu o assessor. Mas o episódio potencializou o mal-estar.
Mourão foi a quinta opção de vice. Foi escolhido depois que fracassaram as tentativas de Bolsonaro de se acertar com Magno Malta, Janaína Paschoal, Augusto Heleno e Luiz Philippe de Orleans e Bragança. Em agosto de 2018, Eduardo Bolsonaro, filho Zero Três do presidente, explicou a escolha do general: "Sempre aconselhei o meu pai: tem que botar um cara faca na caveira pra ser vice. Tem que ser alguém que não compense correr atrás de um impeachment." Está funcionando.
Há na Câmara seis dezenas de pedidos de impeachment. Nenhum deles deve prosperar. Por três razões:
1) Ao se acertar com o centrão, Bolsonaro passou a dispor de sustentação parlamentar;
2) O presidente dispõe de algo como 30% de aprovação nas pesquisas. A popularidade de Dilma Rousseff, quando foi afastada, rodava na casa dos 7%;
3) Por último, há o fator batizado por Eduardo Bolsonaro de "faca na caveira". Mesmo quem grita "Fora Bolsonaro" não se anima a entoar o coro de "Mourão presidente."
Bolsonaro faria um bem a si mesmo se, em vez de brigar, delegasse missões a Mourão. A ociosidade é a mãe de todos os vices.
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