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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rivais presenteiam Bolsonaro com sua autofagia

Colunista do UOL

08/02/2021 20h30

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Entre as muitas interrogações que assediam o Brasil no momento está a incerteza em relação aos candidatos que disputarão a Presidência em 2022. O país bateu num iceberg, e não sabe quantas pessoas e empresas morrerão de Covid até que a vacinação alcance um volume suficiente para deter a proliferação desenfreada do vírus. O brasileiro conta as vidas e os empregos perdidos. Simultaneamente, os políticos procuram botes salva-vidas para os seus projetos de poder.

Num instante em que a pandemia parecia dificultar o plano de Jair Bolsonaro de se reeleger, os rivais se movem como se desejassem facilitar a vida do presidente. Surgiram duas novidades —uma à esquerda, outra à direita. Enquanto reza para que o STF lave a sua ficha suja, Lula autorizou Fernando Haddad a esquentar a conjuntura desfilando pelo país como alternativa presidencial do PT. E o apresentador Luciano Huck assistiu à implosão do DEM, legenda que ele cogitava usar como plataforma de lançamento de suas pretensões presidenciais.

Aliados tradicionais do petismo, Guilherme Boulos, do PSOL, e o governador maranhense Flávio Dino, do PCdoB, reagiram mal à jogada de Lula. Disseram que, na disputa com Bolsonaro, o projeto precisa vir antes dos nomes de eventuais candidatos. Rodrigo Maia, ex-estrela do DEM, acusou ACM Neto de entregar o partido numa bandeja para Bolsonaro, dando por sepultado o projeto que seria encabeçado por Huck. Chamado de traidor, o neto de ACM tachou Maia, um ex-amigo de 20 anos, de "desequilibrado".

O DEM não foi a única legenda a sair trincada da disputa pela presidência da Câmara, vencida pelo réu do centrão Arthur Lira. O PSDB também expôs sua rachadura. O tucano João Doria cavalga a vacina do Butantã, mas tem dificuldades para se livrar do cavalo de Troia Aécio Neves. Ainda não se sabe se o presidente da República terá desempenho que justifique o desejo de permanecer no trono. Mas, ao presentear o rival com sua autofagia, a oposição demonstra que, por ora, Bolsonaro não tem outro adversário além de si mesmo.