Topo

Josias de Souza

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Bolsonaro, Mourão e 3 ministros ignoraram oferecimento de vacinas da Pfizer

Colunista do UOL

12/05/2021 15h46

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A oferta de vacinas da Pfizer não foi ignorada apenas pelo então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. O laboratório pediu "celeridade" em carta endereçada a Jair Bolsonaro, ao vice-presidente Hamilton Mourão e a outros dois ministros além de Pazuello: Paulo Guedes, da Economia, e Walter Braga Netto, então chefe da Casa Civil, hoje ministro da Defesa.

O documento é datado de 12 de setembro. Nele, o presidente mundial da Pfizer Albert Bourla escreveu: "Quero fazer todos os esforços possíveis para garantir que doses de nossa futura vacina sejam reservadas para população brasileira, porém celeridade é crucial devido à alta demanda de outros países e ao número limitado de doses em 2020." A carta foi repassada à CPI da Covid pelo ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten.

O executivo da Pfizer alertou na carta: "Minha equipe no Brasil se reuniu com representantes de seus Ministérios da Saúde e da Economia, bem como com a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Apresentamos uma proposta ao Ministério da Saúde do Brasil para fornecer nossa potencial vacina que poderia proteger milhões de brasileiros, mas até o momento não recebemos uma resposta."

Albert Bourla referia-se a uma proposta na qual a Pfizer oferecera, em 15 de agosto de 2020, um lote de 70 milhões de doses de sua vacina, com entrega a partir de dezembro de 2020. O governo só comprou a vacina em 19 de março de 2021, sete meses depois da oferta inicial. Assinou finalmente contrato para a aquisição de 100 milhões doses.

Em depoimento à CPI, Fábio Wajngarten disse ter sido alertado para a falta de resposta do governo à Pfizer em 9 de dezembro de 2020, quase dois meses depois do envio da carta a Bolsonaro e outros integrantes da cúpula do governo. Vai abaixo a íntegra da carta da Pfizer:

"Na luta contra a Covid-19, uma vacina é parte crítica para lidar com a crise de saúde global, diminuindo as taxas de infecção, doença e morte em todo o mundo. A Pfizer tem estado na linha de frente no enfrentamento desta pandemia que afeta brasileiros e pacientes em todo o mundo, desde os primeiros dias desta emergência.

A Pfizer foi fundada na cidade de Nova York, está sediada nos Estados Unidos há mais de 170 anos, e opera no Brasil há aproximadamente 70 anos. Junto com nosso parceiro, a empresa alemã BioNTech, estamos aproveitando décadas de experiência científica para desenvolver, testar e fabricar uma vacina de RNA para ajudar a prevenir a infecção pela Covid-19.

Atualmente, estamos conduzindo um ensaio clínico em grande escala de Fase 2/3 com pelo menos 30 mil participantes em um grupo seleto de países em todo o mundo, incluindo dois centros de pesquisa no Brasil com cerca de 2 mil brasileiros voluntários. Estamos no caminho certo para buscar uma revisão regulatória de nossa vacina em outubro de 2020, com centenas de milhares de doses já produzidas.

A potencial vacina da Pfizer e da BioNTech é uma opção muito promissora para ajudar seu governo a mitigar esta pandemia. Quero fazer todos os esforços possíveis para garantir que doses de nossa futura vacina sejam reservadas para população brasileira, porém celeridade é crucial devido à alta demanda de outros países e ao número limitado de doses em 2020. Como deve ser do conhecimento de vossa excelência, fechamos um acordo com o governo dos Estados Unidos para fornecer 100 milhões de doses de nossa potencial vacina, com a opção de oferecer 500 milhões de doses adicionais

A Pfizer tem o maior contrato com o governo dos EUA em termos de valor para uma vacina contra a Covid-19 até o momento, demonstrando a confiança que a administração do presidente Donald Trump e tem em nosso ciência em nossa capacidade de produção. O Dr. Monsef Slaoui, Conselheiro Chefe da Operação Warp Speed do Governo dos Estados Unidos, visitou a instalação da Pfizer que está produzindo nossa vacina Covid-19 e que poderia abastecer o Brasil. Temos ainda acordos com o Reino Unido, Canadá, Japão e vários outros países, e estamos em negociações finais qual União Europeia para fornecer 200 milhões de doses, com a opção de fornecimento adicional de mais 100 milhões de doses.

Minha equipe no Brasil se reuniu com representantes de seus Ministérios da Saúde e da Economia, bem como com a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Apresentamos uma proposta ao Ministério da Saúde do Brasil para fornecer nossa potencial vacina que poderia proteger milhões de brasileiros, mas até o momento não recebemos uma resposta. Sabendo que o tempo é essencial, minha equipe está interessada em acelerar as discussões sobre uma possível aquisição e pronta para se reunir com Vossa Excelência ou representantes do Governo Brasileiro o mais rapidamente possível. Finalmente, como presidente mundial da Pfizer, estou orgulhoso em assinar um acordo histórico demonstrando um compromisso unificado em manter a integridade do processo científico enquanto trabalhamos para obter os registros regulatórios e aprovações das primeiras vacinas contra a Covid-19. Caso Vossa Excelência ou membros de sua equipe tenham alguma dúvida, não hesitem em entrar em contato comigo diretamente ou com minha equipe no Brasil, incluindo o presidente de nossa subsidiária no país, Carlos Murillo."

Atenciosamente,

Dr. Albert Bourla