Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Excesso de fios desencapados submete Bolsonaro ao risco de curto-circuito
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O presidente Bolsonaro atravessa uma conjuntura de alta voltagem. E não param de surgir novidades que tornam o ambiente mais eletrificado. A penúltima foi a divulgação, em notícia do UOL, de gravações que indicam o envolvimento direto de Bolsonaro no esquema da rachadinha, eufemismo para o crime de peculato: apropriação ilegal de verba pública.
Num dos áudios, Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, revela que Bolsonaro se apropriava de parte dos salários dos assessores quando era deputado federal. Demitiu um irmão dela por não devolver toda a quantia desejada pelo então parlamentar. Noutra gravação, ela conta que restituía quase todo seu salário quando estava lotada no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio.
A confirmação de que a rachadinha era mesmo um mau hábito familiar se junta a um emaranhado de fios desencapados que submetem a Presidência de Bolsonaro ao risco de um curto-circuito. O presidente vive algo muito parecido com um cerco.
A CPI da Covid e a Procuradoria da República no Distrito Federal investigam suspeitas de corrupção na negociação de vacinas. O Tribunal de Contas da União deu dez dias para que o governo esclareça interrogações sobre o contrato de compra da vacina indiana Covaxin.
O Supremo abriu dois inquéritos radioativos. Num, apura-se a suspeita de que Bolsonaro prevaricou por não ter acionado a Polícia Federal quando foi alertado sobre irregularidades cometidas na Saúde.
Noutro, deputados bolsonaristas, assessores do Planalto e os filhos do presidente —Flávio, Carlos e Eduardo— são investigados por integrar suposta "organização criminosa" digital, estruturada com a "finalidade de atentar contra a democracia e o Estado de Direito."
Como se tudo isso fosse pouco, há o ronco do asfalto. Em apenas 35 dias, opositores de Bolsonaro saíram às ruas três vezes. Ainda não se enxerga no horizonte a perspectiva de aprovação de um pedido de impeachment. Mas cresce entre os próprios aliados de Bolsonaro a percepção de que o projeto da reeleição subiu no telhado.
O presidente vem sendo aconselhado a retirar a raiva da sua retórica. Mas não se deu por achado. Embora ainda disponha de um ano e meio para construir algo que o credencie para um segundo mandato, Bolsonaro dedica-se em tempo integral à atividade da desconstrução.
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