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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Acordo de Fux, Lira e Pacheco com Bolsonaro só valeria se fosse impresso

Adriano Machado
Imagem: Adriano Machado

Colunista do UOL

14/07/2021 02h21

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Reúnem-se nesta quarta-feira em Brasília os chefes dos três Poderes. Luiz Fux (Supremo), Rodrigo Pacheco (Senado) e Arthur Lira (Câmara) planejam firmar com Bolsonaro um acordo sobre a fixação de "balizas" democráticas que garantam a "estabilidade" do regime político. O encontro é desnecessário, absurdo e inútil.

A pajelança é desnecessária porque as balizas que asseguram a estabilidade da democracia brasileira estão fixadas na Constituição que vigora há 33 anos, desde 1988. A conversa é absurda porque foi convocada para amansar Bolsonaro, que ameaça cancelar as eleições se o Congresso não lhe entregar o voto impresso. A iniciativa é inútil porque Bolsonaro não sofre de insanidade, ele saboreia cada segundo dela. O Brasil ainda tem muito a desaprender com o capitão.

Quem quiser compreender a confusão mental do presidente deve revisitar os discursos de posse. Foram dois. Falando no plenário da Câmara, um presidente estalando de novo propôs genericamente um "pacto nacional entre a sociedade e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na busca de novos caminhos para o Brasil". Comprometeu-se a "construir uma sociedade sem discriminação ou divisão".

Discursando desde o parlatório do Planalto, um palanque de mármore que dá para a Praça dos Três Poderes, o mesmo Bolsonaro anunciou: "O Brasil começa a se libertar do socialismo e do politicamente correto." Ficou entendido que o "pacto" do discurso anterior, aquele que conduziria à "sociedade sem discriminação ou divisão", era conversa fiada.

No último dia 24 de março, Bolsonaro celebrou com Fux, Pacheco e Lira um "pacto nacional" para despolitizar o combate à pandemia. Constituiu-se um comitê para o gerenciamento da crise sanitária. Três dias antes desse encontro, o capitão empurrou para baixo do tapete as malfeitorias do contrato de compra da vacina Covaxin. Deu na CPI que desestabiliza o governo e leva aos lábios do presidente uma retórica de banheiro de rodoviária.

Nesse contexto, um acordo de Fux, Lira e Pacheco com Bolsonaro só valeria se fosse impresso. O problema e que, infelizmente, o que Bolsonaro diz não se escreve.