Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Aras opera em duas velocidades, ambas insultuosas e autodesmoralizantes
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Ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a prisão de Roberto Jefferson ocorre à revelia de Augusto Aras. O mandado foi expedido no âmbito de um inquérito que o procurador-geral da República queria arquivar. No léxico do Poder, Aras virou sinônimo de vexame.
Intelectualmente lento, Aras demora a notar que a gratidão de Bolsonaro é menor do que a sua disposição de oferecer blindagem ao presidente e seu grupo. Moralmente ligeiro, o procurador-geral já não se importa em carbonizar o pouco que resta de sua biografia para proteger o seu patrono.
Essas duas velocidades de Aras —a lentidão mental e a ligeireza moral— são insultuosas. Até o ministro Dias Toffoli, que cultiva no Supremo uma proximidade radioativa com a família Bolsonaro, já notou.
Relator de uma ação em que o senador Alessandro Vieira pede ao Supremo que obrigue Bolsonaro a se explicar sobre as mentiras de que há fraude nas eleições brasileiras, Toffoli requisitou a manifestação do procurador-geral, como é de praxe. Aras respondeu num ofício que estava ciente da requisição. Mas não disse o que pensa sobre a ação. E Toffoli teve de lembrar ao procurador-geral que ele precisa informar se acha que Bolsonaro cometeu crime ou não.
Dias atrás, Rosa Weber foi mais enfática. Irritou-se com o pedido da Procuradoria-Geral para aguardar até o término da CPI da Covid para decidir sobre a eventual abertura de investigação contra Bolsonaro por prevaricação no Caso Covaxin. A ministra passou um sabão em Aras e sua equipe. Lembrou que, "no desenho das atribuições do Ministério Público, não se vislumbra o papel de espectador das ações dos Poderes da República".
Alexandre de Moraes foi mais prático. Simplesmente desligou Augusto Aras da tomada. Ignorou um pedido de Augusto Aras para arquivar investigação contra o então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. E passou a abrir inquéritos inclusive contra Bolsonaro sem ouvir o procurador-geral previamente.
Não é sem motivo que quase três dezenas de subprocuradores-gerais assinaram um manifesto cobrando do procurador-geral atitudes contra as ameaças de Bolsonaro à democracia. Tenta-se evitar que a autocombustão do procurador-geral queime todo o Ministério Público Federal.
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