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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Parceria com Lula virou o 'Plano A' para Alckmin

Montagem G1
Imagem: Montagem G1

Colunista do UOL

15/12/2021 18h15

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Na mensagem em que deu adeus ao PSDB, Geraldo Alckmin se descreveu como "um soldado sempre pronto para combater o bom combate com entusiasmo e lealdade." Deixa o partido em que se abrigou por mais de três décadas acusando de deslealdade João Doria, seu ex-afilhado político. E namora a perspectiva de sentar praça numa tropa que sempre tratou como adversária. Alckmin estreita sua inimizade com Lula. Em privado, revela-se cada vez mais seduzido pela ideia de se tornar candidato a vice numa chapa encabeçada pelo presidenciável do PT.

Petistas que torcem o nariz para a parceria argumentam que o favoritismo de Lula nas pesquisas dispensa a tucanização da chapa. Numa evidência de que deseja atrair Alckmin, Lula repete internamente algo que já disse em público. Afirma que quer "construir uma chapa para ganhar as eleições." Ainda mais pragmático, o governador petista da Bahia, Rui Costa, diz que a incorporação da centro-direita ao projeto petista é essencial para governar o país em caso de vitória.

Na prática, Lula tenta repetir com Alckmin algo que fez nas eleições de 2002 e 2006, quando se elegeu e se reelegeu presidente tendo como vice o empresário José de Alencar. Embora parte do PT já tenha subido no salto alto, dando de barato que a vitória virá no primeiro turno, Lula se equipa para o segundo round. Antevê que Bolsonaro recorrerá ao discurso ideológico. E imagina que a companhia de Alckmin dará à sua chapa uma plumagem tucana capaz de transformar o Apocalipse comunista numa caricatura.

Alckmin ainda não descartou a hipótese de disputar o governo de São Paulo. Mas o que era o seu 'Plano A' virou 'Plano B'. No momento, condiciona a migração do cenário estadual para o federal à remodelagem do papel de vice. Não quer ser peça de decoração esquecida no edifício anexo do Planalto.

Na sucessão de 2006, Lula e Alckmin tacharam-se mutuamente de leviano e mentiroso. Agora, trocam amabilidades. No próximo domingo, participarão juntos de um jantar beneficente. A aproximação da dupla é mais uma evidência de que em política o impossível é apenas uma palavra que carrega dentro de si o possível.