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Tudo é anormal no inquérito contra Ciro, inclusive a reação do próprio Ciro
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O brasileiro se espanta cada vez menos. Mas certos episódios são tão inusitados que ressuscitam o ponto de exclamação. A batida realizada pelos rapazes da Polícia Federal na residência de Ciro Gomes e dos seus irmãos é um desses acontecimentos que pedem a concessão de uma surpresa. Tudo é anormal nesse caso —da ação policial à reação do investigado.
A atuação da polícia é esquisita porque foi autorizada por um juiz federal, Danilo Dias de Almeida, com o propósito de recolher provas de um suposto esquema de corrupção praticado entre 2010 e 2013. Qualquer criança de cinco anos perceberia que uma batida policial realizada oito anos depois da hipotética prática criminosa é uma iniciativa fadada ao insucesso.
Ciro Gomes falou sobre as acusações que lhe são dirigidas com ares de surpresa. Disse estar "absolutamente seguro" de que Bolsonaro colocou a PF no seu encalço. A reação do presidenciável do PDT é esquisita porque o inquérito aberto contra ele é de 2017. O caso já frequentou as manchetes na campanha de 2018.
Estava tudo no noticiário de três anos atrás: a reforma de um estádio, o governo do irmão Cid Gomes, os delatores de uma empreiteira, a acusação de que Lúcio Gomes, outro irmão, agenciou propinas, ora em dinheiro vivo, ora na forma de doações de campanha. "Isso é uma completa mentira", disse Ciro na ocasião. Ele prometia processar quem difundisse a "calúnia".
A cólera é o sentimento que se espera de um político decente quando é acusado de corrupção. O incompreensível neste caso é que um candidato como Ciro, que faz da honestidade um ativo político, não tenha agido para desarmar o curto-circuito produzido por um fio que já estava desencapado na campanha passada.
O Ministério Público Federal no Ceará posicionou-se contra a operação de busca e apreensão deflagrada nesta quarta-feira. Mas apoiou o pedido da PF de quebra dos sigilos fiscal e telefônico. Avaliou que há matéria-prima para investigação.
Bolsonaro aparelhou a PF desavergonhadamente. Mas improvável que ele esteja por trás da ação de Fortaleza. Interessa ao presidente que Ciro continue brigando com Sergio Moro por um terceiro lugar nas pesquisas.
A democracia brasileira anda meio avacalhada. Mas até a esculhambação tem limites. É preciso retirar desse caso o ponto de exclamação. Algo que só será feito quando forem eliminados os pontos de interrogação.
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