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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro agora teme 'efeito Putin' na campanha

Colunista do UOL

10/03/2022 18h35

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A conta da devastação que a Rússia promove na Ucrânia chegou ao Brasil. A Petrobras represava o reajuste dos combustíveis havia 57 dias. Segurou o aumento do gás de cozinha por 152 dias. Sob os efeitos da crise mundial que a guerra provocou no setor de energia, a estatal anunciou um forte reajuste. A contragosto, Bolsonaro autorizou. Simultaneamente, o presidente deflagrou uma estratégia para evitar que sua campanha à reeleição seja contaminada pelo que foi batizado por um de seus ministros de "efeito Putin".

A engrenagem digital bolsonarista foi acionada para distanciar o presidente da encrenca. Falando aos devotos do cercadinho, o próprio Bolsonaro deu o norte do discurso: "Eu não defino preço na Petrobras. Eu não decido nada", declarou. "Só quando tem problema cai no meu colo." Nos últimos dias, o governo difundiu a informação de que cogitava congelar o preço dos combustíveis. Agora, perfis a serviço do bolsonarismo nas redes sociais começam a apresentar o controle de preços como uma urucubaca usada pelo PT, em prejuízo da Petrobras.

Bolsonaro irritou-se com declarações feitas por Lula e Gleisi Hoffmann, presidente do PT. Nas pegadas do reajuste dos combustíveis, Lula afirmou que, se eleito, rediscutirá o "papel da Petrobras". Disse que a estatal foi "destruída" pela Lava Jato. Gleisi classificou de "criminoso" o método de reajuste que vincula os preços da Petrobras à variação do dólar e à cotação do barril de óleo no exterior.

Numa conversa entrecortada por palavrões, Bolsonaro antecipou a um auxiliar e a um aliado no Congresso o teor das respostas que dará em público. O que destruiu a Petrobras nos governos do PT foi a "roubalheira", declarou. Criminoso foi o "rateio" de diretorias da estatal entre políticos e empreiteiras. Ironicamente, Bolsonaro desfruta do apoio congressual de ex-sócios do PT no saque à Petrobras.

Além de elevar a temperatura do debate político, o reajuste dos combustíveis puxará para o alto os preços dos alimentos, a inflação e os juros. Essa combinação tóxica derrubará o crescimento da economia. Para ter alguma serventia, a campanha eleitoral precisa tratar dessas questões a sério.