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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Debate Lula X Bolsonaro é indispensável, com Ciro Gomes de franco-atirador

Os presidenciáveis Lula (PT), Jair Bolsonaro (PL) e Ciro Gomes (PDT) - Divulgação e Agência Brasil
Os presidenciáveis Lula (PT), Jair Bolsonaro (PL) e Ciro Gomes (PDT) Imagem: Divulgação e Agência Brasil

Colunista do UOL

12/05/2022 18h22

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À frente nas pesquisas, Lula e Bolsonaro ainda não esboçaram a intenção de participar de debates. Não é aceitável que privem o eleitor do embate direto, ao vivo. Esse tête-à-tête tornou-se gênero de primeira necessidade. Além de indispensável, seria divertido. A participação de Ciro Gomes, no papel de franco-atirador, melhoraria o espetáculo.

Ao atacar o sistema eleitoral e insinuar que os brasileiros precisam se armar para prover "reforço" às Forças Armadas na guerra contra uma hipotética "comunização" do Brasil, Bolsonaro age como se desejasse tornar eleição monotemática. Diante de ameaças à democracia, tudo parece secundário. Mas a pauta de problemas que assediam os brasileiros é pluritemática: inflação, desemprego, superendividamento, apatia econômica, reformas por fazer...

Seja quem for o presidente, ele terá de lidar com um Congresso apinhado de parlamentares com códigos de barra na lapela. Considerando-se que a perversão está em toda parte, uma boa lavagem de roupa suja seria útil e burlesca. O mensalão e o petrolão têm suas raízes fincadas nos dois mandatos de Lula. Com as emendas secretas, Bolsonaro levou o flagelo para dentro do Orçamento federal.

Único candidato alternativo a exibir um desempenho acima da margem de erro das pesquisas, Ciro Gomes é instado por apoiadores de Lula e partidários do PDT a desistir. A deserção seria uma burla ao ritual de uma disputa concebida para ser travada em dois turnos. Ciro parece decidido a resistir às cotoveladas e aos empurrões.

Com a autoimplosão de Sergio Moro e a dispersão da terceira via em duas vielas (João Doria e Simone Tebet) e um beco sem saída (Luciano Bivar), Ciro sobrevive como derradeiro contraponto acima da margem de erro das pesquisas. Sustenta que, sem a sua candidatura, "a polarização aumentaria num momento em que Lula estagnou e Bolsonaro se sustenta."

Ciro atribui a resistência de Bolsonaro ao antipetismo remanescente. Ele troca seu raciocínio em miúdos: "Se não fosse assim, por que um presidente que não governa, que não consegue controlar a inflação, o desemprego, a corrupção, a fome e a miséria se mantém competitivo? Unicamente porque a sombra de Lula e do petismo obscurecem o cenário".

Com esse ânimo, Ciro poderia aproveitar um debate para esfregar na cara de Bolsonaro a inépcia de um presidente que passa pelo governo sem governar e a holding familiar da rachadinha. Com sorte, ganharia a oportunidade de questionar Lula sobre a ruína econômica de Dilma e instá-lo a comentar o que chama de "alianças nefastas" com personagens que participaram de saques como o da Petrobras.

Debates eleitorais costumam ser travados. Mas a internet oferece um palco com menos amarras do que aquelas que a legislação impõe às TVs abertas. Os debates organizados pelo UOL e pela Folha, por exemplo, seguirão o modelo de banco de tempo. Nele, os candidatos administram a duração de suas intervenções, sacando a quantidade de tempo que desejarem. Leva a melhor quem chega ao final com fundos no banco de tempo para arrematar raciocínios e reagir a ataques.

As eleições gerais de 2022 custaram ao "contribuinte" R$ 5 bilhões. Sonegar ao eleitorado transmissões ao vivo da fricção entre os candidatos seria um crime contra a economia popular. Transformaria a corrida presidencial num caso para o Procon.