Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsonaro foi aos EUA como um vexame esperando oportunidade para acontecer
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Com atraso, Bolsonaro voou para Los Angeles. Foi participar da Cúpula das Américas. Percorrerá o evento como um vexame esperando oportunidade para acontecer. São duas as ocasiões mais temerárias. Nesta quinta-feira, o capitão trocará um dedo de prosa com o anfitrião Joe Biden. Na sexta, deve discursar para os outros chefes de Estado.
Na noite de quarta, ainda sem a presença de Bolsonaro, Biden declarou que "a democracia está sob ataque no mundo todo." Referiu-se à cúpula como uma oportunidade para que os presentes renovem a "convicção de que a democracia é um ingrediente essencial do futuro das Américas." Levando-se o presidente dos Estados a sério, Bolsonaro frequenta a cúpula no papel de vilão, não de democrata.
Bolsonaro chegou atrasado aos Estados Unidos porque desperdiçou as últimas 48 horas despejando falas tóxicas sobre a conjuntura brasileira. Desfiou todo o rosário de perversões bolsonaristas —do apoio a arruaceiros ideológicos aos ataques a magistrados; da promessa de descumprir ordens judiciais à ameaça de tumultuar o processo eleitoral.
Está combinado que os líderes presentes à Cúpula das Américas assumirão compromissos por escrito no final do encontro. Um documento sobre democracia incluirá respeito às instituições, defesa dos direitos humanos, valorização da liberdade de imprensa e superação da pobreza. Outro texto, sobre desenvolvimento sustentável, mencionará temas como o combate às mudanças climáticas e a proteção das florestas.
Para subscrever tais documentos, Bolsonaro terá de segurar a caneta como uma espécie de ex-Bolsonaro. Retornará ao Brasil como um fake-presidente. A esse ponto chegamos. A contaminação da política externa por uma visão marcada pela ideologia e pelo personalismo expõe o Brasil a riscos que o país não precisaria correr se não fosse presidido pelo vexame.
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