Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Odebrecht não é uma potência moral injustiçada
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O contrário do lavajatismo primário é um antilavajatismo inocente que aceita todas as presunções de corruptos e corruptores a seu próprio respeito. Em matéria de perversão, isso inclui concordar com a insinuação do ex-diretor da Odebrecht Alexandrino de Alencar segundo a qual a lama produzida pela maior empreiteira do país só veio à tona porque investigadores pressionaram investigados a mentir em troca de favores judiciais.
O documentário "Amigo Secreto", dirigido por Maria Augusta Ramos, é oportuno. Traz os bastidores da Vaza Jato. A troca de mensagens entre Sergio Moro e procuradores da Lava Jato expôs abusos da operação sobre os quais vale a pena refletir. Mas se há algo incontroverso nesse enredo é a evidência de que a Odebrecht não pode passar à história como uma potência moral injustiçada.
O doutor Alexandrino diz ter sido pressionado a incriminar Lula. Ao mesmo tempo afirma no documentário que chegou "no limite da verdade". Não inventou. Entre as verdades que contou estão as reformas que a Odebrecht pagou para assegurar os confortos de Lula no sítio de Atibaia.
Condenado a 12 anos e 11 meses de cadeia em segunda instância, o agora presidenciável do PT teve a sentença revogada pelo Supremo por razões processuais. Posteriormente, foi premiado com a prescrição dos crimes.
É falsa a ideia de que a Odebrecht foi arrastada para a delação coletiva. Em outubro de 2014, quando o ex-direitor da Petrobras Paulo Roberto Costa contou seus crimes aos procuradores, Marcelo Odebrecht assinou uma "nota de esclarecimento". Nela, queixou-se de "alguns veículos" da imprensa por tratarem como verdadeira a "denúncia vazia de um criminoso confesso que é 'premiado' por denunciar a major quantidade possível de empresas e pessoas".
Em março de 2016, cercada pelos fatos, a Odebrecht anunciou que prestaria uma "colaboração definitiva." O Brasil foi apresentado ao subsolo do abismo da corrupção. A ausência de punição ou o cancelamento de sentenças dos corruptos não limpa a Odebrecht. A logomarca tem orelhas de lobo, focinho de lobo e dentes de lobo. Não dá para fingir que se trata de uma inocente vovozinha disfarçada.
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