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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A mando de quem PF diz não haver mandante?

Assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips pode ter envolvimento de um grupo de crime organizado. Foto: TV Brasil - Assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips pode ter envolvimento de um grupo de crime organizado. Foto: TV Brasil
Assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips pode ter envolvimento de um grupo de crime organizado. Foto: TV Brasil Imagem: Assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips pode ter envolvimento de um grupo de crime organizado. Foto: TV Brasil

Colunista do UOL

17/06/2022 19h16

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A Polícia Federal informou em nota oficial divulgada nesta sexta-feira que os suspeitos de assassinar o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips agiram sozinhos. As investigações indicariam que não há "mandante nem organização criminosa por trás do delito". A versão é precipitada, desrespeitosa e espantosa.

O comunicado foi divulgado horas antes da constatação científica de que são mesmo de Dom parte dos restos mortais recolhidos na floresta na quarta-feira. Prossegue a análise em relação a Bruno. Segundo a própria PF, a "completa identificação" é necessária para "a compreensão das causas das mortes, assim como para indicação da dinâmica do crime e ocultação dos corpos." Nada mais precipitado do que descartar o que deveria ser a principal linha de investigação num estágio tão inicial do inquérito.


Tanta pressa desrespeita os familiares dos mortos e todos os que esperam por uma investigação criteriosa, profunda e definitiva. A ligeireza insulta também quem se dispõe a colaborar com os investigadores. A Univaja, por exemplo, estranha que estejam sendo ignorados dados que repassou ao Ministério Público, à Funai e à própria PF. São informações que apontam para uma criminalidade graúda.

O desprezo à colaboração externa espanta mais quando se considera que, neste caso, os agentes do Estado só chegaram aos primeiros presos graças ao auxílio dos informantes. De resto, não teriam encontrado roupas e pertences dos mortos sem o auxílio dos indígenas. De posse desse material, puderam cercar Amarildo Oliveira, o Pelado, extraindo dele a confissão que levou aos corpos.

De duas, uma: ou a PF explica adequadamente por que despreza a hipótese de existência de mandante ou vai restar a impressão de que o órgão age a mando de gente interessada em enterrar viva uma investigação incômoda para o governo.