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Ao atacar Petrobras, Lira cospe num prato em que centrão já não pode comer
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Exausto de comprar brigas com terceiros, Bolsonaro decidiu inovar. Colocou o governo para brigar consigo mesmo. Com o aval do Planalto, Arthur Lira, comandante da Câmara e da milícia parlamentar do centrão, inicia nesta semana uma inusitada guerra contra a Petrobras. A estatal será torpedeada em pelo menos três frentes.
Numa, Lira levará aos líderes dos partidos as propostas de tributação da Petrobras. Vão à mesa um projeto que dobra a CSLL, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido da estatal, e outro que cria um imposto de exportação sobre o petróleo.
Desconsidera-se o fato de que os lucros da Petrobras rendem dividendos extraordinários para o governo, seu acionista majoritário. Só no ano passado, foram quase R$ 40 bilhões. De resto, ignora-se um detalhe: as novidades tributárias não importunariam apenas a estatal, mas todas as empresas do setor de óleo e gás.
Noutra frente, o centrão trama abrir uma CPI para chantagear dirigentes da Petrobras. Em artigo publicado na Folha, Lira disse que é preciso tirar a máscara da companhia. Empilhou um lote de perguntas. Interrogações como essas: "Quanto gastam seus diretores em viagens? Quanto custam suas hospedagens? Quem paga seus almoços e jantares? Alugam carros? Aviões? Helicópteros? Há excessos? Como constituíram seus patrimônios? Seus parentes: investem onde e são ligados a quem?"
É como se Lira recitasse perguntas para si mesmo diante do espelho. As questões endereçadas aos dirigentes da Petrobras se aplicam a onze em cada dez congressistas do centrão. As respostas não dependem de CPI. O acionista majoritário deveria providenciar os dados para o seu aliado.
"Temos de entender os critérios de formulação de políticas da empresa", anotou Lira. "Temos de entender com quem os diretores e os conselheiros conversam. E esses interlocutores: são ligados a que interesses?" Em matéria de vinculação esquisita de agentes públicos com interesses privados, convém não polemizar com Lira. Não se deve discutir com especialistas.
Num terceiro movimento, Lira deflagrou uma campanha pela renúncia do presidente da Petrobras, José Mauro Coelho. Tachou-o de "ilegítimo". Indicado por Bolsonaro, Coelho foi substituído 39 dias depois da posse. No momento, aguarda a tramitação legal do nome do seu substituto. Empurrado, é improvável que resista à pressão. Deve sucumbir.
Seja como for, ilegítima mesmo é a cruzada de Lira. O deputado é oligarca do PP, partido que liderou o ranking de encrencados no petrolão. Ao atacar Petrobras, Lira cospe num prato em que o centrão já não pode comer. A pretexto de conter os reajustes dos combustíveis, deseja-se restaurar a imoralidade. Será necessário rasgar a Lei das S.A. e o estatuto da Petrobras, reformulados com o propósito de inibir novos assaltos à companhia.
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