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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Orçamento secreto fede a mensalão e petrolão

EPA/Joedson Alves
Imagem: EPA/Joedson Alves

Colunista do UOL

08/07/2022 18h20

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O senador capixaba Marcos do Val declarou em entrevista ao Estadão que recebeu R$ 50 milhões em emendas do orçamento secreto como "gratidão" por ter apoiado Rodrigo Pacheco na disputa pela presidência do Senado, em fevereiro do ano passado. Segundo ele, coube a Davi Alcolumbre, coordenador da vitoriosa campanha, informar o tamanho da gratidão. Do Val relatou uma conversa que teve com o próprio beneficiário do seu apoio: "O Rodrigo Pacheco virou e falou para mim assim: 'Olha, Marcos, nós vamos fazer o seguinte: os líderes vão receber tanto, os líderes de bancada tanto, essa foi a nossa divisão".

Pegou mal. Depois da publicação, ao tentar se explicar, Marcos do Val disse ter sido "mal interpretado". Noutras circunstâncias, ele talvez culpasse a maldita imprensa. Mas a entrevista foi gravada. O áudio está disponível para quem quiser ouvir. Restou ao senador pedir desculpas pelo "mal entendido". Em meio a reinterpretações de sua própria fala, o entrevistado realçou que os R$ 50 milhões não foram para ele, mas para o seu estado. O Podemos, partido do senador, mostra ao filiado a porta de saída.

Já se sabia que as eleições para o comando das duas Casas do Congresso foram azeitadas com emendas secretas de um orçamento paralelo. Em português claro: dinheiro seu, meu, nosso.

Há seis meses, o deputado goiano Delegado Waldir já havia declarado que, na Câmara, os partidários de Arthur Lira foram presenteados com R$ 10 milhões em verbas repassadas à sombra. Agora, surge a cota de R$ 50 milhões do Senado.

Corre no Supremo Tribunal Federal uma ação que pede o fim da farra do orçamento secreto. Há escândalos demais no noticiário envolvendo o manuseio dessas emendas tóxicas. Mas a Suprema Corte se finge de morta. A conjuntura exala o mesmo fedor da época em que os votos no Congresso eram comprados na base do mensalão e do petrolão.

Um país não deveria cometer o mesmo erro duas, três vezes. Mas o Brasil, dispondo de tantos erros novos para cometer, insiste na reincidência. A oligarquia patrimonialista sempre vira a página para trás.