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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pobres e mulheres blindam Lula, jovens e classe média empurram Bolsonaro

Lula ficou estacionado em 45% e Bolsonaro subiu dois pontos, segundo o Datafolha. Foto: Reprodução/ montagem - Lula ficou estacionado em 45% e Bolsonaro subiu dois pontos, segundo o Datafolha. Foto: Reprodução/ montagem
Lula ficou estacionado em 45% e Bolsonaro subiu dois pontos, segundo o Datafolha. Foto: Reprodução/ montagem Imagem: Lula ficou estacionado em 45% e Bolsonaro subiu dois pontos, segundo o Datafolha. Foto: Reprodução/ montagem

Colunista do UOL

10/09/2022 04h23

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A montanha de 7 de Setembro pariu um asterisco. Medida pelo Datafolha, a "virada" anunciada pelos clarins do comitê da reeleição não ultrapassou os limites da margem de erro. Bolsonaro (34%) oscilou positivamente dois pontos percentuais. Não roubou votos de Lula (45%), que permaneceu do mesmo tamanho. A distância entre os dois agora é de onze pontos.

Majoritários, pobres e mulheres oferecem blindagem a Lula, mantendo-o no topo. Eleitores jovens e de classe média foram os principais responsáveis pelo soluço que evitou que Bolsonaro ficasse no zero a zero. No cálculo dos votos válidos, Lula somou 48%. Para prevalecer no primeiro turno, precisaria de 50% mais um. Não é impossível. Entretanto, a três semanas da eleição, parece improvável.

Se o segundo turno fosse hoje, Lula (53%) derrotaria Bolsonaro (39%) com 14 pontos de lambuja. Parece muito. Mas é preciso levar em conta que, num embate direto entre dois candidatos, cada voto roubado do adversário conta em dobro. Ou seja: Bolsonaro teria que avançar sete casas para empatar com Lula.

Segundo o Datafolha, a vantagem de Lula sobre Bolsonaro era de 21 pontos em maio. Caiu dez pontos em três meses. Não é pouca coisa. O diabo é que, mantido esse ritmo, a intersecção da curva ascendente de Bolsonaro com a reta de Lula aconteceria apenas em dezembro, dois meses após a abertura das urnas.

Lula deve sua resistência no topo do Datatolha sobretudo a dois nichos da sociedade: os pobres e as mulheres. Entre os que ganham até dois salários mínimos (50% do eleitorado), o candidato petista amealhou 54% das intenções de voto, contra 26% atribuídos a Bolsonaro. No subgrupo que recebe o Auxílio Brasil de R$ 600, o placar é de 56% a 28% a favor de Lula.

Entre as mulheres, que respondem por 52% dos votos, o imbrochável Bolsonaro oscilou de 28% para 29% em uma semana. Lula escorregou dois pontos: de 48% para 46%. Continua ostentando uma vantagem de notáveis 17 pontos. Esgotou-se, aparentemente, o efeito Michelle.

O avanço de Bolsonaro é lento e insuficiente porque ocorre em núcleos minoritários do eleitorado. Neste penúltimo Datafolha, seu crescimento mais vistoso —nove pontos percentuais— foi detectado na faixa dos eleitores de classe média, com renda familiar de cinco a dez salários (8% do eleitorado).

Bolsonaro obteve crescimento expressivo de sete pontos também no pedaço mais jovem do eleitorado, 16 a 24 anos. Beliscou mais três pontos junto à turma de 25 anos a 34 anos. Juntas, essas duas faixas representam 32% do eleitorado do país.

O presidente abriu 23 pontos de vantagem sobre Lula entre os evangélicos (27% do eleitorado). Mas Bolsonaro está 27 pontos atrás do rival no nicho majoritário dos católicos (52% do eleitorado).

Além de levar desvantagem nos estratos mais numerosos da sociedade, Bolsonaro amarga no Datafolha uma interrupção momentânea do seu crescimento no Sudeste, região que abriga quatro em cada dez eleitores do país. Ali, a coisa foi estabilizada com cinco pontos de vantagem de Lula (41%) sobre Bolsonaro (36%).

Em 2018, Bolsonaro surrou Fernando Haddad, seu adversário petista na época, no Sudeste. Precisaria repetir o feito agora. Do contrário, não conseguirá atenuar a surra que o Datafolha registra no Nordeste, segunda região mais populosa do país. Ali, Lula obtém 60% das intenções de voto. Bolsonaro, 23%. Uma diferença de 37 pontos.

Como se tudo isso fosse pouco, a taxa de rejeição de Bolsonaro (51% declaram que jamais votariam nele) ainda é maior do que a de Lula (39%). Nunca um presidente no exercício do cargo chegou tão estilhaçado à reta final de uma campanha pela reeleição.