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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula ainda não sabe como lidar com corrupção

Colunista do UOL

13/09/2022 19h20

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Favorito nas pesquisas presidenciais, Lula ainda não conseguiu lidar adequadamente com um tema vital: corrupção. Depois de anos de desconversa, passou a admitir uma obviedade: houve desvios durante os governos do PT. Falta explicar como fará para evitar a repetição da roubalheira caso retorne ao Planalto. Em entrevista à CNN, Lula repetiu um roteiro que havia seguido quando esteve na bancada do Jornal Nacional, na TV Globo. Soou perigosamente incongruente.

Reconheceu os desvios na Petrobras, enalteceu medidas de controle adotadas nas administrações petistas e apontou as perversões da gestão Bolsonaro. Reiterou que acabará com o orçamento secreto, versão institucional do mensalão e do petrolão. Como fazer? "Política é a arte de conversar", disse Lula. "Você conversa com quem está na cadeira, eleito como deputado, como senador, goste ou não goste", Lula acrescentou: "Você conversa com quem tem poder de decisão." Hoje, "poder" é apenas um outro nome para centrão.

Perguntou-se a Lula se sabia do loteamento político na Petrobras. E ele: Isso "acontece na democracia de qualquer país do mundo". Declarou que, eleito, os partidos que integram sua coligação "vão ter direito de indicar" pessoas para postos na engrenagem federal. Insistiu: "Isso faz parte da democracia." Lula disse a certa altura: "As pessoas que eu indiquei para a Petrobras eram pessoas com mais de 30 anos [na empresa]. Não era um corpo estranho."

Chama-se Paulo Roberto Costa o primeiro delator da roubalheira na Petrobras. Era chamado por Lula de "Paulinho". Vale a pena recordar o que ele disse em depoimento.

Paulinho declarou ter trabalhado por 27 anos na estatal "sem nenhuma mácula". De repente, foi indicado para a diretoria de Abastecimento pelo PP. Trata-se do partido de Arthur Lira e Ciro Nogueira, os reis do orçamento secreto da era Bolsonaro. Foi a partir do apadrinhamento político que Paulo Roberto meteu-se em corrupção. Disse que passou a operar segundo a regra da oração de São Francisco: "É dando que se recebe".

Ao confundir o aparelhamento que levou ao assalto com "coisa da democracia", Lula revela que nada aprendeu. Ou nada esqueceu. Repetindo os métodos, chegará aos mesmos resultados. Nesse jogo, dão as cartas personagens como Lira, Nogueira e Valdemar Costa Neto. Ex-sócios do petrolão ou do mensalão, estão agora aninhados no orçamento secreto. São a favor de tudo ou contra qualquer outra coisa, desde que possam plantar bananeira dentro dos cofres estatais.