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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Haddad dosa timbre para não fazer do trono de ministro uma cadeira elétrica

Colunista do UOL

25/11/2022 19h09

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A dúvida da transição não é mais se o petista Fernando Haddad será ou não o novo chefe do futuro Ministério da Fazenda. Todas as evidências são de que será. Entretanto, falta um crachá. As orelhas são de ministro, o nariz é de ministro. Mas a língua ainda se apresenta como porta-voz de Lula. A preocupação de não sentar na cadeira antes da hora leva Haddad a dizer coisas definitivas sem definir muito bem as coisas.

"Vou falar em nome do presidente eleito", afirmou Haddad ao discursar para a fina flor do setor financeiro, reunida num encontro de final de ano da federação dos bancos. Mencionou a prioridade que o novo governo dará à reforma tributária. Deseja-se aproveitar proposta do economista Bernardo Appy, que já tramita no Congresso. Num segundo momento, o governo cuidará dos impostos sobre a renda e o patrimônio. Faltou esclarecer quanto se pretende extrair do bolso do contribuinte. Nem sinal da tesoura de uma boa reforma administrativa.

Haddad citou a necessidade de "reconfigurar" o orçamento federal, tornando os gastos mais eficientes e transparentes. Tudo negociado com o Congresso, sem sobressaltos. Nenhuma palavra sobre a blindagem do orçamento secreto do centrão. O preposto de Lula encaixou no discurso compromissos do presidente eleito com a estabilidade política e a normalização das relações institucionais. Cobrou da plateia de banqueiros o barateamento do crédito.

O timbre do provável-quase-futuro-ministro-da-Fazenda foi aguado. A necessidade de soar evasivo fez com que Haddad pulasse o tema da moda: a PEC da Transição. Continuaram piscando no letreiro as interrogações de praxe: Quanto vai custar a licença de Lula para gastar? Por quanto tempo? Cadê a âncora fiscal?

O nariz torcido do mercado apareceu instantaneamente nos contornos dos índices da Bolsa e do dólar. O diabo é que Haddad não pode fabricar respostas que ainda não existem no governo de transição. Sob pena de transformar o almejado assento de ministro da Fazenda numa cadeira elétrica prematura.