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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula prega democracia no Brasil e oferece carinho a ditaduras companheiras

Colunista do UOL

24/01/2023 09h48

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A menos de um mês no Poder, Lula desperdiça metade do seu tempo administrando o rescaldo de um golpe fracassado e escolhendo os militares bolsonaristas que enviará para o freezer. Quando se imaginava que Lula havia colecionado razões para se dissociar de regimes autoritários, ele decidiu afagar duas ditaduras companheiras em sua passagem pela Argentina.

Numa entrevista coletiva, Lula e o colega argentino Alberto Fernández defenderam o diálogo com Cuba e Venezuela. A certa altura, Lula disse que "os cubanos não querem copiar o modelo do Brasil. Não querem copiar o modelo americano. Eles querem fazer o modelo deles. E quem é que tem alguma coisa a ver com isso?". Se esse raciocínio fosse aplicado ao caso brasileiro, o mundo teria dado uma banana para Lula no 8 de janeiro. E o que se viu foi uma rede internacional de solidariedade instantânea à democracia brasileira.

Ao enaltecer a Celac, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, que se reúne nesta terça-feira em Buenos Aires, Lula fez uma menção especial a dois dos 33 paises-membros: "O Brasil, sobretudo o Brasil, e os países que compõem a Celac, têm que tratar Cuba e Venezuela com muito carinho. No que pudermos ajudá-los a resolver seus problemas, vamos ajudar."

Uma coisa é respeitar a soberania alheia e a autodeterminação dos povos. Outra coisa bem diferente é oferecer "carinho" a ditaduras. Uma coisa é cultivar relações diplomáticas acima das ideologias. Outra coisa é ignorar que países democráticos não devem afagar regimes que desprezam os valores mais elementares da democracia e os direitos humanos.

Lula havia programado uma reunião com Nicolás Maduro. Foi presenteado com a ausência do personagem. Ainda assim caprichou na meiguice. Ironicamente, Lula enfrenta no Brasil um flagelo bolsonarista que inferniza os venezuelanos: o aparelhamento das Forças Armadas e das corporações policiais.

Ao oferecer carinho a quem merece repúdio, Lula contribui para retardar o derretimento político de Bolsonaro.