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Datafolha reforça nova obsessão de Lula: seduzir classe média bolsonarista
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A uma semana do aniversário de 100 dias do governo, Lula avalia o desempenho de sua própria administração de forma paradoxal. Acha que conseguiu resgatar rapidamente programas sociais direcionados aos mais pobres, removendo o grosso do entulho deixado por Bolsonaro. Mas lamenta não ter lançado novidades capazes de cristalizar a percepção de que falava sério quando prometeu "governar para todos os brasileiros". Os resultados da mais recente pesquisa Datafolha potencializaram o desejo de Lula de adicionar ao cardápio de sua gestão programas voltados à classe média. Essa é a nova obsessão de Lula.
Em conversa com a coluna, um ministro de Lula disse que "a opinião do presidente sobre o governo é muito parecida com a visão dos brasileiros", captada pelo Datafolha. Assim como a maioria (51%), Lula acha que fez menos do que se esperava dele. Entretanto, a exemplo da expectativa manifestada por metade dos entrevistados (50%), ele também avalia que dispõe de tempo para realizar um terceiro mandato ótimo ou bom. Daí a motivação para seduzir os brasileiros de classe média, um segmento ainda impregnado de bolsonarismo.
Lula deseja radicalizar o slogan ecoado por Fernando Haddad ao anunciar na semana passada a sua proposta de nova regra fiscal: "Colocar os pobres no orçamento e os ricos no Imposto de Renda". Na visão do presidente, a pandemia aprofundou o fosso da desigualdade no Brasil. Os pobres ficaram mais pobres, os ricos estão cada vez mais ricos e a classe média cada vez menos classe média. Trabalha-se com a perspectiva de que o plano idealizado para obter o equilíbrio das contas públicas sem inibir os investimentos do Estado abrirá espaço no orçamento para contemplar a faixa intermediária da sociedade.
Lula vem esboçando sua inquietação em discursos públicos. Em 16 de fevereiro, ao anunciar em solenidade no Planalto o aumento no valor das bolsas estudantis oferecidas pelo Ministério da Educação, o presidente declarou: "Também vamos tratar de atender a classe média. É preciso que a gente atenda a classe média, porque no fundo é a classe média que não é contemplada em quase nada das políticas públicas do governo. Além de cuidar das pessoas mais pobres, temos que cuidar das pessoas da classe média. Porque são elas que sustentam a economia desse país".
Em 20 de março, ao relançar o programa Mais Médicos, Lula renovou o aceno: "Quando nós tivermos completado cem dias, já teremos recolocadas na prateleira todas as políticas públicas que nós criamos e que deram certo neste país. A partir dos cem dias, nós vamos ter que começar a fazer coisas novas. Nós temos que nos dirigir um pouco à classe média brasileira. Porque, no fundo, no fundo, ela tem sofrido muito neste país".
Atingindo o novo objetivo, Lula evitaria um erro atribuído a Bolsonaro. O antecessor governou, na prática, apenas para um terço do eleitorado. Chegou ao final do mandato identificado sobretudo com seus seguidores mais radicais. Com o projeto da reeleição fazendo água, tentou atenuar as debilidades de sua gestão com doses cavalares de populismo eleitoral. Perdeu para Lula com a mais estreita margem de votos da história, apenas 1,8 ponto percentual. Os eleitores mais pobres blindaram Lula. Receberam os benefícios de Bolsonaro, mas votaram no adversário.
Afora a memória social evocada pelos seus dois primeiros mandatos, Lula foi beneficiado pelo fator democrático. O receio de converter o Brasil numa autocracia inspirou a formação da frente ampla que rendeu a Lula votos conservadores que ele não teria em condições normais. Decorridos três meses do terceiro mandato, a taxa de aprovação do governo —38% segundo o Datafolha— foi recebida com uma ponta de satisfação pelo staff de Lula. O índice está, porém, distante dos 51% de votos amealhados pelo presidente nas urnas de 2022. Os acenos à classe média parecem mais inspirados pelo desejo de recuperar eleitores do que de atrair os recalcitrantes do bolsonarismo.
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