Topo

Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

As alternativas de Cid: parar de cavar ou jogar terra em cima de si mesmo

Colunista do UOL

17/05/2023 19h01

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Preso numa unidade militar, cercado pelos indícios de fraude extraídos pela Polícia Federal das nuvens conectadas ao seu celular, o coronel Mauro Cid presta depoimento nesta quinta-feira no inquérito sobre a fraude nos cartões de vacina. O personagem já reconhece, em privado, que se encontra num local bastante parecido com um buraco. A vida ensina que a primeira regra dos buracos é singela: quando o sujeito cai dentro de um, precisa parar de cavar.

Cid dispõe de duas alternativas. Se contar aos investigadores que apenas cumpria ordens quando entrou no sistema do Ministério da Saúde para injetar vacinas falsas nos cartões de Bolsonaro e da filha do ex-chefe, o coronel abandona a picareta. Nessa hipótese, o ex-ajudante de ordens reduzirá o tamanho de sua pena. Se endossar a versão segundo a qual agiu por conta própria, sem o conhecimento de Bolsonaro, o ex-ajudante de ordens jogará terra em cima de si mesmo.

Para Mauro Cid, a experiência de participar do grupo de auxiliares que privaram da intimidade da família Bolsonaro tornou-se uma coisa muito singular. Até bem pouco, o coronel era festejado como avis rara do bolsonarismo, um eficiente faz-tudo do então presidente. Hoje, está abandonado à própria sorte.

Ao interrogar Bolsonaro 48 horas antes da inquirição de Cid, a Polícia Federal ofereceu ao coronel uma oportunidade para refletir sobre o próprio futuro. Em quase três horas de interrogatório, Bolsonaro limitou-se a entoar o bordão "eu não sabia". Acomodou todas as culpas sobre os ombros de Cid.

Lançando mão dos melhores estratagemas para atingir os piores subterfúgios, o ex-mito negou a própria fama. De presidente mandão, converteu-se num coadjuvante nato.

No tempo em que Brasília ainda tentava fazer sentido, os valores pareciam mais nítidos. Bolsonaro considerava-se um deus onipresente e Cid era um militar cioso da hierarquia, um mero pau-mandado. Subitamente, a nitidez perdeu a função. Nada é o que parece. Bolsonaro virou um antilíder.

Nesse contexto, o coronel dispõe da alternativa de se reposicionar em cena. Ou pode se comportar como o sujeito que reclama do barulho quando a oportunidade bate à porta. Em qualquer hipótese, Brasília viverá um dia de fortes emoções.