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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com 2 ministros, pasta do Turismo está acéfala

O prefeito Waguinho e a ministra do Turismo, Daniela Waguinho - Reprodução/Redes Sociais
O prefeito Waguinho e a ministra do Turismo, Daniela Waguinho Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Colunista do UOL

02/07/2023 03h58

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Produziu-se na Esplanada de Lula uma estranha situação. O Ministério do Turismo tornou-se um território baldio. Dispõe de dois ministros, e não tem nenhum. No oficial, há a ministra Daniela Carneiro, a Daniela do Waguinho. Ela percorre a conjuntura na inusitada condição de ex-ministra ainda no exercício do cargo. Perdeu a cabeça. Seu escalpo foi levado à bandeja por Lula.

No paralelo, há o deputado Celso Sabino. Ele perambula pelos subterrâneos de Brasília como um futuro ministro que, a despeito de não ter sido formalmente nomeado, negocia à sombra o reforço do orçamento do ministério. Parlamentares do centrão se equipam para despejar no Turismo emendas orçamentárias com potencial para converter a pasta numa espécie de nova Codevasf, um ninho de desvios que desafia o recato e a Polícia Federal.

Daniela cavalga um paradoxo. Sobrevivera à milícia do Rio de Janeiro. Lula a mantivera no cargo mesmo depois que se descobriu que convivera com pelo menos cinco milicianos fluminenses. Ironicamente, não resistiu à pressão da milícia parlamentar do centrão. Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, prefeito de Belford Roxo, migrou do União Brasil para o Republicanos. Daniela pediu autorização à Justiça Eleitoral para seguir o marido.

A caminho da porta de saída, Daniela passou a ser torpedeada pela cúpula do União Brasil. Embora forneça ao Planalto um apoio legislativo gelatinoso, o partido comandado por Luciano Bivar não abre mão de mandar e, sobretudo, desmandar no Ministério do Turismo. Além de ser filiado ao União, Sabino, o ministro informal, dispõe do apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira, cujo prestígio balança no ritmo das investigações que pilharam no carro do motorista de seu ex-assessor Luciano Cavalcante anotações de pagamentos de mais de R$ 600 mil para um certo "Arthur".

Lula considera-se devedor de Waguinho. É grato pelo apoio do prefeito na corrida presidencial de 2022. Mas a fragilidade do governo no Congresso levou o presidente da República a considerar o pragmatismo uma virtude mais valiosa do que a gratidão. O Planalto negocia compensações à quase-ex-ministra e seu marido. Daí a hesitação que converte Daniela numa caricatura de desenho animado.

Nos desenhos, personagens que perdem o chão continuam a caminhar no vazio. Só caem quando se dão conta de que estão pisando em nada. Imaginou-se que a troca de Daniela por Sabino ocorreria na semana passada. Mas a caricatura refugiou-se em Lisboa. Desfilou sua insignificância num evento promovido na capital portuguesa pelo IDP, uma faculdade de Direito fundada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e dirigida pelo filho dele.

Em Lisboa, Daniela simulou normalidade. Como os encrencados dos desenhos, ela evitou olhar para baixo. Parecia convencida de que, se fingisse não se dar conta da realidade, conseguiria atravessar o abismo. Não colou. De volta a Brasília, Daniela será forçada pelas circunstâncias a olhar para baixo. Estima-se que a pseudoministra despencará nos próximos dias. Lula sabe que um presidente precisa dar as cartas. Não pode desperdiçar o tempo embaralhando-as.

Confirmando-se a nomeação de Sabino, o Ministério do Turismo continuará acéfalo. A exemplo de Daniela, o virtual sucessor não é afeito às atividades turísticas. Sua presença na Esplanada não assegura a fidelidade legislativa do União Brasil ao Planalto. Mas Sabino não vai ao Turismo a passeio. Ele está a serviço do centrão.