Greve vira oportunidade política que Tarcísio de Freitas aproveita
Pessoas precipitadas nunca aproveitam adequadamente as oportunidades. Na verdade, muitas vezes, o precipitado é uma oportunidade que os outros aproveitam. A pretexto de torpedear as privatizações de Tarcísio de Freitas, o sindicalismo realizou uma greve que paralisou o transporte público sobre trilhos em São Paulo. O paulistano pobre teve um dia infernal. O governador paulista foi ao paraíso.
Em nove meses de gestão, Tarcísio produziu crises constrangedoras. Nas rodas de conversa, quando alguém mencionava uma lambança do governo, era inútil mudar de assunto. Podia-se no máximo mudar de crise. Na segurança Pública, a chacina do Guarujá. Na Educação, a aposta na inépcia. Na Saúde, o veto à vacinação contra o HPV...
Os grevistas presentearam Tarcísio com a oportunidade de mudar de assunto. Encontraram uma forma inusitada de luta. Defenderam a preservação da qualidade dos transportes públicos sonegando o serviço ao usuário pobre. Foi como se desejassem fornecer motivos à população que depende de trens e metros para prestar atenção à pregação privatista do governador.
Há muitas formas de guerrear contra um projeto de privatização. A conversão da vida da clientela num inferno não é a maneira mais inteligente. Em vez de impor custos adicionais a quem já paga os impostos, os organizadores da greve poderiam, por exemplo, fornecer esclarecimentos à população sobre o Apocalipse que anteveem caso Tarcísio consiga privatizar a Sabesp e as linhas de trens e do metrô ainda geridas pelo estado.
Tarcísio passou o dia trombeteando as linhas já privatizadas do metrô, imunes à greve. Numa evidência de que a privatização precisa ser antecedida de amplo debate, uma das linhas prediletas do governador foi paralisada por uma pane. Se não tivesse eletrocutado a si mesmo no curto-circuito grevista, o sindicalismo anti-privatização subiria no caixote com mais legitimidade.
Um tiro no pé é o resultado de uma aposta. Pode dar certo ou errado. Quem apostou na greve se absteve de calcular as probabilidades. Jogou às cegas. Tentou-se transferir o desgaste para o governador, acusando-o de não liberar as catracas. Não funcionou. Em política, a diferença entre a genialidade e a desinteligência é que a genialidade tem limites.
Chama-se Camila Lisboa a presidente do sindicato dos metroviários de São Paulo, uma das entidades que organizaram a greve. Ela é filiada ao PSOL. Mirando em Tarcísio, acertou o pé de Guilherme Boulos, o candidato do seu partido à prefeitura paulistana.
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