Na briga entre o sindicalismo e Tarcísio, pobre entra com a cara
Numa democracia, o debate sobre a privatização de serviços públicos é algo desejável e salutar. O problema é que, na briga entre o governador Tarcísio de Freitas e o sindicalismo sobre trilhos de São Paulo, o trabalhador pobre entra com a cara.
O governador esgrime os votos recebidos no ano passado para sustentar que dispõe de respaldo para privatizar ou terceirizar as linhas da CPTM e do metrô, além da Sabesp. Os grevistas cruzam os braços no pressuposto de que haverá o pagamento do dia parado.
A malta que paga os impostos precisa provar que teve a locomoção sequestrada para não sofrer o desconto no contracheque. Quem trabalha por conta própria rala um prejuízo instantâneo.
A maioria que elegeu Tarcísio sabia que se tratava de um privatista. Quem discorda do receituário deve se equipar para obter mais votos em 2026. Os sindicatos estatais têm o direito de se opor. Mas sabem que a legislação regula e limita a cruzada de braços no setor público.
A Justiça do Trabalho determinou o funcionamento a pleno vapor nos horários de pico. Impôs 80% da mão de obra ativa nos demais horários. O governador considera-se alvo de "ataques políticos e ideológicos". Classifica a greve de "ilegal e abusiva". Os grevistas sustentam que lutam contra a piora do serviço.
O diabo é que, quando uma estação de trem ou de metrô fecha, a conta é paga em dobro por quem mais precisa do serviço. O governador irá ao Judiciário. Quando chegar a hora da volta ao trabalho, o pagamento do dia parado abre a pauta de pré-condições, assegurando aos grevistas o paraíso do risco zero.
O pobre do usuário, que já havia custeado o tributo, paga em dobro com os prejuízos que sofre. Para ele, o serviço piora com ou sem privatização. É na cara do pobre que a greve dói mais.
Tarcísio faria um bem a si mesmo se alargasse os horizontes do debate sobre suas privatizações. Os opositores renderiam homenagens à lógica se encontrassem formas de defender a qualidade do serviço sem sonegá-lo.
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