Lira viaja e Câmara obtém salvo-conduto para não trabalhar
Cinco dias e meio de trabalho, com folga no sábado à tarde, além do domingo, são chamados de "semana inglesa". Na semana brasilense do legislativo, os parlamentares costumam se reunir de terças a quintas. Depois, voltam para as suas bases, onde ficam de sextas a segundas mantendo, em plena era das redes sociais, contatos supostamente presenciais com os eleitores. Súbito, surgiu na Câmara uma nova modalidade de expediente. Prevê o pagamento do salário sem o inconveniente do derramamento de suor. Chama-se "turno Lira".
A Câmara se autoconcendeu salvo-conduto para não trabalhar sempre que Arthur Lira estiver ausente do país. Foi adiada para 24 de outubro a votação do projeto de lei que muda a tributação dos fundos exclusivos de milionários e taxa as contas offshore mantidas em paraísos fiscais. Por quê? Lira viajará para Índia e China. Ficará fora entre os dias 10 e 20. Levará um séquito de deputados. Nesse intervalo, Lira e o centrão esperam que Lula reflita sobre o "acordo" que prevê a entrega da Caixa Econômica Federal —de "porteira fechada".
Pode-se acusar Arthur Lira de muita coisa, exceto de falta de método. O imperador da Câmara já havia recorrido ao "turno Lira" no final do primeiro semestre. Empurrou a votação da proposta sobre a nova regra fiscal para o segundo semestre. Naquela ocasião, antecipou as férias em uma semana. Embarcou num cruzeiro marítmo ornamentado com a presença de Wesley Safadão. Agora, há uma pitada adicional de escárnio. O novo périplo internacional será custeado pelo erário.
Relator do projeto que tributa os super-ricos, o deputado Pedro Paulo já apresentou seu parecer. Para justificar o adiamento da votação, decidido em reunião de Lira com os líderes partidários, alegou que muitos parlamentares se ausentarão de Brasília nos próximos dias. Além da viagem de Lira e Cia., a próxima semana será entrecortada por um feriado.
Fez-se "uma opção conservadora para votar com segurança, sem corre-corre", disse Pedro Paulo. "Já esperamos mais de 20 anos para chegar ao ponto que estamos chegando, não é por cinco sessões que vamos perder essa oportunidade". Então, tá! Ficamos assim. Que sejam lavradas as atas. Oficializou-se o "turno Lira".
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